sábado, 17 de junho de 2017

Quá-quá-quá!

Por Saulo Alves de Oliveira

Este é um pequeno texto que eu escrevi em 2015 por ocasião das manifestações a favor do impeachment de Dilma Rousseff. Não me lembro exatamente o motivo de não tê-lo publicado naquela época. Mesmo atrasado, acho que ainda tem alguma coisa a ver com o contexto atual.  

Dia desses, na fila do banco, eu ouvi a seguinte conversa. Parece que era um “petralha” e um “coxinha” [primeira vez que uso estes adjetivos]:

- Coxinha: Tudo bem, Petralha?

- Petralha: Tudo bem. E você, como está?

- Coxinha: Eu estou bem. Você vai à manifestação domingo, dia 13?

- Petralha: Qual manifestação?

- Coxinha: Contra a corrupção e pró-impeachment da Dilma.

- Petralha: Você está falando sério mesmo?

- Coxinha: Sim, estou!

- Petralha: Manifestação encabeçada por Aécio Neves, PSDB, DEM, MBL, Revoltados Online, Vem Pra Rua? Que vai ter um trio elétrico com Malafaia, Feliciano e Bolsonaro? Contra a corrupção?

- Coxinha: Isso mesmo, contra a corrupção.

- Petralha: Se fosse convocada por Mujica, papa Francisco, Gandhi ou quem sabe Jesus Cristo! Isso é uma piada, não é?

- Coxinha: Não, é sério!

- Petralha: Quá-quá-quá!

Eu, que não participava da conversa, também não aguentei. Quá-quá-quá!

sexta-feira, 9 de junho de 2017

Alguém pode explicar?

Por Saulo Alves de Oliveira

De vez em quando meu espírito começa a divagar e alguns pensamentos me sobem à mente – quiçá meio estranhos, para algumas pessoas. Talvez eu deva creditá-los à minha fraca bagagem intelectual. Mesmo assim, quero compartilhar uma dessas divagações com quem tiver a oportunidade de ler o breve texto abaixo.

Hoje eu estava pensando na seguinte situação:

Paulo, o grande apóstolo, nos ensinou em Romanos 8.28: E sabemos que todas as coisas concorrem para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito.

Eis as histórias resumidas de alguns cristãos sinceros e tementes a Deus.

João perdeu uma das pernas em um acidente de trabalho.

Maria foi acometida por uma doença degenerativa que a fez perder os movimentos das duas pernas. Hoje, Maria se desloca para qualquer lugar em uma cadeira de rodas. Em casa, qualquer atividade é feita sempre com a ajuda de outra pessoa.

Pedro, de apenas dez anos, perdeu pai e mãe em um acidente de carro. Pedro não tem avós, irmãos ou tios.

Jorrana, mulher cristã, foi barbaramente estuprada e espancada quase até à morte por radicais religiosos em um país do oriente. Toda a família foi assassinada com requintes de crueldade. Por um milagre, só ela escapou com vida, pois seus agressores julgavam-na morta. Passou meses em coma no hospital. Perdeu a visão de um dos olhos. Hoje, anda e fala com dificuldade.

Por mais que eu tente, não consigo compatibilizar as histórias acima com o ensinamento de Paulo. Não compreendo como tais fatos podem concorrer para o bem de tais pessoas.

Alguém pode explicar?

segunda-feira, 5 de junho de 2017

Quatro acidentes, quatro desfechos

Por Saulo Alves de Oliveira

Cansado, após um longo dia de trabalho, um homem caminhava sobre uma calçada em direção ao ponto do ônibus. O Sol já começava a desaparecer no horizonte. No fim do dia, como qualquer trabalhador, ele desejava chegar em casa para rever a família e descansar. Distraído, pensava sobre seus problemas familiares e financeiros. Como resolvê-los? No fim do mês sobravam mais dias do que dinheiro. De repente, um carro desgovernado subiu a calçada e chocou-se contra um poste exatamente no local onde ele passava. A partir desse momento, a história tem quatro desfechos diferentes.

Primeiro – O poste estava a apenas dois metros de distância. Que susto! – exclamou o homem, que, além do susto, nada sofreu. Ao chegar em casa ele relatou à família o que acontecera e disse “Deus me livrou”, pois está escrito: “Porque aos seus anjos dará ordem a teu respeito, para te guardarem em todos os teus caminhos”.

Segundo – O homem, que estava próximo ao poste, foi atingido de leve. Caiu, bateu um dos braços no chão e sofreu uma leve escoriação. Levantou-se rapidamente e, de tão simples o dano físico, nem ao menos foi ao hospital. Ao chegar em casa ele relatou à família o que acontecera e disse “Deus me livrou”, pois está escrito: “Ele lhe preserva todos os ossos; nem sequer um deles será quebrado”. 

Terceiro – Nesse desfecho, o nosso personagem foi atingido com certa violência. Recebeu uma forte pancada nas pernas e caiu, batendo a cabeça no chão; quebrou as duas pernas e sofreu traumatismo craniano. Algumas pessoas que estavam no local ajudaram-no e chamaram o serviço de ambulância. Imediatamente foi levado ao hospital, onde submeteu-se a uma cirurgia de cabeça, engessou as duas pernas, e, após várias complicações no pós-operatório e muitos dias de internação, teve de voltar para casa em uma cadeira de rodas. Ao chegar em casa ele relatou à família o que acontecera e disse “Deus me livrou da morte”, pois está escrito: “Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal algum, porque tu estás comigo; a tua vara e o teu cajado me consolam”.

Quarto – Por último, o desafortunado ser humano foi violentamente atingido. Recebeu uma forte pancada nas pernas e ficou preso entre o carro e o poste. A violência do impacto foi tão grande que sua cabeça chocou-se com muita força contra o poste, provocando um grave traumatismo craniano. Lamentavelmente, quando o socorro de emergência chegou, não havia mais nada a fazer. O infeliz trabalhador, que tanto almejava chegar em sua casa para descansar, morreu no local e não mais voltou para casa. No dia seguinte, após o sepultamento, triste e conformada, a família se consolava: “Deus tem os seus mistérios. O Senhor deu, o Senhor tirou; bendito seja o nome do Senhor”. 

Ao longo da minha vida eu tenho observado alguns fatos que me põem a pensar... pensar... e pensar, e por isso eu estou compartilhando com o leitor essas quatro pequenas histórias de ficção, obviamente. Todavia, não é irracional admitir que histórias semelhantes acontecem todos os dias.

Não é interessante?

É sempre assim.

Quando tudo dá certo, é Deus. Quando tudo dá errado, Deus tem os seus mistérios.

Até que ponto é Deus que interfere?

Até que ponto são eventos aleatórios que acontecem naturalmente com qualquer um?