Por Saulo
Alves de Oliveira
Eu
vi um pastor, um dos mais respeitados e de grande credibilidade,
compartilhar uma campanha para cassar os direitos políticos da Presidenta Dilma
Rousseff – é isso mesmo, não estou enganado, um pastor.
Alguém pode estranhar o fato de eu realçar a
palavra “pastor”. O pastor é um ser humano como outro qualquer, sujeito a
falhas e virtudes, com os mais diversos interesses, às vezes bons, às vezes
maus. Eu sei disso. Eu fui criado num lar cristão evangélico, meu pai foi
pastor, eu convivi com vários pastores.
Todavia, pastor para mim, em tempos que não
voltam mais, estava numa
outra dimensão. Há razão pessoal para essa ênfase, mas não vem ao caso tecer
comentários agora. Às vezes o tempo
do verbo numa frase é fundamental para se entender uma afirmação.
Aí eu me lembrei de uma história que é muito
comentada e comemorada nos púlpitos das igrejas. Todas as crianças, filhos ou
filhas de pais evangélicos, ouvem essa edificante história nas aulas da Escola
Dominical ou nos cultos domésticos. Aconteceu há milhares de anos quando Israel
começava a se tornar uma monarquia sob o reinado de Saul, seu primeiro rei.
Dois exércitos estavam prestes a entrar em
guerra, os filisteus e os israelitas.
Da parte dos filisteus apresentou-se um homem
de nome Golias, todo equipado para a guerra, com capacete, couraça, caneleiras,
escudo, espada e lança, e seu escudeiro ao lado. Conhecido como o “gigante”
Golias, pois tinha cerca de 2,90 m, o filisteu provocava Israel para que
apresentasse um guerreiro para lutar com ele. Só havia uma regra: “Se ele
pelejar comigo e me ferir, seremos vossos servos; porém, se eu o vencer e o
ferir, então sereis nossos servos e nos servireis”.
Um jovem pastor, de ovelhas, chamado Davi apresentou-se para lutar com o “gigante”.
Suas armas: um cajado, uma funda e cinco pedras lisas.
Ao aproximarem-se, os dois homens travaram um
breve diálogo e, em seguida, Davi atirou, com sua funda, uma pedra que atingiu
em cheio a testa do filisteu, que caiu com o rosto em terra.
Todavia, parece que Davi não se contentou em
ver aquele corpanzil no chão já abatido e liquidado – talvez, agonizando, ainda
dava alguns sinais de vida –, então resolveu, como havia prometido
anteriormente na breve conversa com o filisteu, cortar-lhe a cabeça. Era
preciso matar e ter certeza que o inimigo estava morto. E o jovem e inexperiente
Davi não teve nenhuma contemplação. Decepou a cabeça do inimigo e a ofereceu ao
rei Saul.
Algumas histórias bíblicas, de tão violentas
e chocantes, me causam um certo incômodo.
Parece que hoje há esse mesmo sentimento, até
entre pastores, e ovelhas também, é preciso abater o adversário, mas não basta só isso. É preciso
abatê-lo, humilhá-lo, cortar sua “cabeça” e servi-la numa bandeja à malta sedenta de sangue. Só assim se
tem a certeza de que o inimigo não mais voltará.
Se os tempos fossem outros, talvez os familiares
do adversário tivessem o mesmo destino, e suas propriedades fossem derrubadas e
destruídas, e sal grosso fosse espalhado em suas terras, para que, em tempo
algum, nem a mais forte das sementes ali brotasse.
Cumprem-se assim as palavras de Jesus: “Amai
os vossos inimigos”.