quarta-feira, 1 de abril de 2015

Apenas um placebo

Por Saulo Alves de Oliveira

O fato de você acreditar que um asno é um cavalo ou um avestruz é uma águia não fará do asno um cavalo nem do avestruz uma águia. O asno sempre será um asno e o avestruz sempre será um avestruz.

Você pode acreditar em algo simplesmente porque lhe traz conforto e consolo, mas tal fato não é suficiente como prova de que sua crença não está restrita ao mundo do imaginário, ainda que coletivo. Simplesmente acreditar não transforma o irreal em algo tangível, concreto.

Bom, esta é minha opinião: se você prefere não conhecer a verdade porque a mentira é reconfortante, é um direito seu. Só você pode decidir. Quanto a mim, prefiro uma verdade que machuca a uma mentira consoladora.  

Crianças acreditam em Papai Noel e isso é maravilhoso para elas. Foi para mim também quando criança. Mas Papai Noel simplesmente não existe. Por mais que alguém acredite em fadas, duendes, gnomos ou lobisomens, tais seres não existem.

Veja a que ponto chega a crendice popular. Pessoas acreditam que tomar um copo de água “ungida” ou água do rio Jordão lhes trará algum benefício. 

Eu fico atônito, em perplexidade com o fato de alguém pregar e muitos incautos acreditarem que o ato de tomar um copo de água “ungida”, água orada, água benzida, água consagrada trará benefícios para alguém. Água é simplesmente H2O, seja “ungida” ou não. Me incomoda, aliás, me entristece profundamente o fato de em pleno século 21 pessoas ainda se deixarem levar por essas e tantas outras crendices tolas e até infantis.

Resquícios medievais em pleno século da razão.

Água do rio Jordão, óleo santo, folha de arruda, sal grosso, oração forte, benzedeira, “despacho, leitura de cartas, caixinha de promessas, rezar Ave Maria, sinal da cruz, ofertar, passar fome, pano santo, suor santo, oração no monte, fixar uma mezuzá na porta, flagelar o próprio corpo, tornar-se “parceiro” de Deus, “semear” alguns reais, depositar na conta de tal igreja, etc. Há muito mais. Meu Deus! É tanta superstição que me assusta. E afronta a inteligência humana.

Simples placebos!

Se alguma coisa boa acontecer na vida de alguém após tomar água “ungida” ou consagrada, só tem duas explicações: 1) autossugestão, que faz a pessoa se empenhar mais em relação a algum propósito, alcançando-o com mais facilidade; ou 2) evento natural que acontece na vida de qualquer pessoa, com ou sem água “ungida” ou outra crendice qualquer.

(Na realidade, a palavra não é exatamente “crendice”, mas, para não ser agressivo, fica “crendice” mesmo.)

É muito simples chegar a essa conclusão. Observe a vida das outras pessoas, que têm fé ou não ou que têm fé diferente da sua, às vezes totalmente contrária à sua. Quando não totalmente céticas. E tudo lhes sucede exatamente da mesma forma, derrotas e vitórias, curas e não curas, sucesso e insucesso, vida e morte, com ou sem água “ungida”.