sábado, 24 de outubro de 2015

Redescobrindo a Bíblia agora?

Por Saulo Alves de Oliveira

Certa vez ao criticar um comentário meu um amigo perguntou: “Saulo, você está redescobrindo a Bíblia agora, depois de tantos anos?

Minha resposta foi mais ou menos assim:

Acho que você acertou no diagnóstico “redescobrindo a Bíblia”, porém errou no tempo “agora”. Na realidade, há muitos anos eu venho redescobrindo a Bíblia, talvez desde a minha juventude. Só que antes, ao ler algum texto que me incomodava, ou quando não encontrava explicação razoável, eu simplesmente deixava pra lá. Sabe aquela história que a gente cresceu ouvindo dizer que “se deve comer a carne do peixe e deixar as espinhas de lado?”

Com o passar dos anos, porém, fui percebendo que não podia deixar as “espinhas” pra lá. Eu precisava de respostas, quer fossem satisfatórias ou não à minha fé. Não tenho a obrigação de aceitar que algo é assim só porque pastor “João” ou “José” (nomes genéricos) dizem que é assim. Não é porque meus pais me ensinaram que eu não posso rever alguma coisa, aliás muitas coisas.

Afinal de contas, hoje eu não penso mais como uma criança ou adolescente, porém como um homem adulto. Eu preciso de explicações racionais e razoáveis. Caso contrário, continuarei questionando.

O grande problema de muitos adultos é ainda pensar como criança, é acreditar em coisas semelhantes ao Papai Noel, fadas, duendes e lobisomens, tais como: sonhos, visões, viagens ao céu ou ao inferno, gritos histéricos nos púlpitos das igrejas, artificialismo emocional para fazer o povo chorar, apelo sórdido às carências humanas para sensibilizar, profecias de fanáticos ou testemunhos mirabolantes etc. Nessa direção há muito mais misticismo. 

Confesso-lhe que já descobri muitas coisas interessantes e que me fizeram mudar muitos conceitos e preconceitos. Há riscos para a fé quando se questiona? Sim. Entretanto, há muitos anos eu disse à minha mãe, uma crente fervorosa, quando conversávamos sobre este tema: “Prefiro correr o risco a não saber a verdade”. É isso que me move. Saber a verdade e não apenas acreditar.

Quando você lê este texto “Nenhum bastardo entrará na congregação do Senhor; nem ainda a sua décima geração entrará na congregação do Senhor” – Dt. 23.2 –, você não se sente impelido a questionar o porquê dessa injustiça? O que é que tem a ver o filho, o neto, o bisneto, o tetraneto etc. com o pecado dos seus pais ou ancestrais?

“Ah, temos de examinar o contexto da época”, dizem para suavizar o impacto da ordenança. Em qual contexto se justifica que o inocente pague pelo erro de outrem?

É por isso, meu amigo, que hoje eu não posso simplesmente passar por cima e deixar para lá. E esse é apenas um exemplo dentre dezenas de outros, talvez centenas.

Se você acha, por exemplo, que Dt. 23.2 não tem nada que mereça uma profunda reflexão ou algum questionamento, (in)felizmente eu não penso da mesma forma.   

Ou a você só interessa palavras como “Mil cairão ao teu lado, e dez mil à tua direita, e tu não serás atingido?” ou ainda “O Senhor é o meu pastor; nada me faltará?”

Eu compreendo sua opinião e acho que se você se sente confortável e feliz em não questionar, continue assim, só olhando para frente e para o alto.

O medo de achar que se agride o Criador ao questioná-lo tolhe qualquer liberdade de pensamento.

Quanto a mim, depois de tudo que já vivi, vi e li, simplesmente é impossível.

sábado, 10 de outubro de 2015

O país dos 4 pês

Por Saulo Alves de Oliveira 

Eu estava almoçando em um restaurante da cidade quando de repente uma conversa chamou minha atenção na mesa atrás de mim.

─ O Sr. Eduardo Cunha é réu em vários processos, dizem que já são 22, e agora descobre-se que ele e parentes seus têm dinheiro irregular em banco na Suíça.

─ É ele mesmo, o presidente da Câmara?

─ Sim, é ele mesmo.

─ Mas não dizem que ele é crente, membro da bancada evangélica no Congresso Nacional?

─ E daí? Por acaso ser crente é sinônimo de honestidade ou de compromisso com o bem público?

─ Meus pais eram evangélicos. Quando criança eu sempre frequentei a Escola Dominical e foi isso que me ensinaram. Tinha até alguns crentes que se achavam “as pregas de quelé”. O mundo lá fora e nós, uma ilha de santidade, propriedade exclusiva de Deus. Um professor sempre dizia, com o dedo em riste e um ar de superioridade: “Não podemos ter comunhão com quem não é dos nossos, pois somos santos”. Hoje eu estou afastado da Igreja. Mas, voltando ao Sr. Eduardo Cunha... não é aquele que o Sr. Silas Malafaia parabenizou no Twitter dizendo:

“Parabéns ao novo presidente da câmara,DEP evangélico Eduardo Cunha,uma vitoria espetacular humilhou o governo e o PT.Vão ter q nos aturar”?

─ Exatamente.

─ Dinheiro irregular na Suíça! Quando ele será preso?

─ Ele é do PT?

─ Não!

─ Você já ouviu aquele ditado popular que termina dizendo “Quando a galinha criar dente?”

─ Bom, esse é muito antigo. Tem este mais novo que diz “No Brasil só se prende preto, pobre, p... e agora petista também.”

─ Garçom, a conta por favor.

A partir daí fez-se silêncio. Passaram-se alguns minutos e eu resolvi me virar para ver quem conversava naquela mesa. Ao olhar para trás, não vi mais ninguém. Já tinham ido embora.

quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Lua de Sangue

Por Saulo Alves de Oliveira

O Sol se converterá em trevas, e a Lua em sangue, antes que venha o grande e terrível dia do Senhor. 
Joel 2.31


"A pior prisão é a da mente."

Mesmo sem conhecer o autor desta frase não posso deixar de aplaudi-la, visto que suas palavras expressam uma verdade inquestionável.

Eu admiro muito o físico e cosmólogo britânico Stephen Hawking. Seu corpo está preso a uma cadeira de rodas, mas sua mente está livre para "viajar" pelo espaço. Para pensar. Para questionar. Para buscar a verdade.

Quantos, em pleno século 21, ainda estão presos a crendices populares!

Quantos acreditam que um fenômeno natural como a "Lua de Sangue" é um presságio de coisas ruins que podem vir sobre a Terra!

O fenômeno equivocadamente chamado “Lua de Sangue” – de sangue não tem nada – é associado por alguns crentes a uma citação bíblica (Joel 2.31 ), não sei se por ingenuidade ou propositalmente para amedrontar os mais crédulos.

Se tivessem um pouquinho mais de cuidado chegariam à conclusão de que se trata simplesmente de um fenômeno natural, que se repete de tempos em tempos, e que é perfeitamente explicado pela ciência da astronomia.

Não vou entrar em maiores detalhes para o texto não ficar muito longo – quem quiser se aprofundar no assunto é só pesquisar na internet –, mas trata-se da luz do Sol filtrada pela atmosfera da Terra que, em consequência de um fenômeno natural chamado refração, deixa passar menos luz azul e mais luz vermelha. Aquela luz vermelho-alaranjado atinge a Lua durante um eclipse total e é refletida em nossa direção.  

Nós vemos todos os dias o mesmo fenômeno da luz vermelho-alaranjado no céu por ocasião do alvorecer ou do pôr do Sol. Aquela mesma luz que vemos no céu no final da madrugada ou no final da tarde atinge o nosso belo satélite e proporciona o fantástico espetáculo da misticizada “Lua de Sangue”, que de sangue nada tem. Evidentemente, a luz vermelho-alaranjado que vemos refletida na Lua por ocasião do eclipse é a luz do Sol ao nascer ou se pôr em outras regiões da Terra.        

Veja o que diz o site Planetário de Vitória, da Universidade Federal do Espírito Santo:

“Um astronauta que estivesse na Lua, olhando para a Terra durante um eclipse lunar total, veria o nosso planeta como um disco escuro circundado por um anel vermelho brilhante. Esse anel nada mais seria do que a luz dos crepúsculos e auroras ocorrendo ao redor de toda a Terra naquele instante. É essa luz que incide sobre a Lua durante o eclipse total, produzindo a sua coloração vermelho-alaranjado. Se a Terra não possuísse atmosfera, não teríamos este efeito.”

Lamentavelmente, sempre foi assim ao longo da história da humanidade. No passado, os eclipses do Sol ou da Lua, os vulcões, os terremotos, as tempestades e muitos outros fenômenos naturais eram tidos como demonstrações da insatisfação dos deuses em relação aos humanos pecadores. Ainda hoje há quem atribua aos tsunamis o estalido do chicote de Deus. Medem Deus com a mesma régua com que medem as atitudes de alguns humanos canalhas, tiranos, déspotas... Estariam certos?    

Com todas as descobertas científicas do nosso tempo, ainda há quem pense assim. Meu Deus!

Até quando sofreremos sem necessidade?

Entristece-me não ter esperança de ver a humanidade liberta das crendices e superstições ainda nos anos da minha vida.

Felizmente ainda tive tempo de me ver livre.

E também tenho o prazer de experimentar uma outra alegria: os que estão muito próximos a mim estão todos livres.