sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Salomão: ovelha ou bode?

Por Saulo Alves de Oliveira

É certo que ao ler ou ouvir uma história nem todas as pessoas têm a mesma percepção ou atentam para os mesmos detalhes.

Acabei de reler a história de Salomão nos livros dos Reis e das Crônicas.

É ele mesmo, o rei Salomão, terceiro rei de Israel, filho de Davi.
 

Um homem muito rico, famoso, sábio(?) e também extremamente promíscuo. Salomão teve centenas e centenas de mulheres, mais precisamente mil, e, ao final de sua vida, converteu-se ao politeísmo, isto é, tornou-se um seguidor de vários deuses.

Tem alguma dúvida? Leia abaixo. 

Pois sucedeu que, no tempo da velhice de Salomão, suas mulheres lhe perverteram o coração para seguir outros deuses; e o seu coração já não era perfeito para com o Senhor seu Deus, como fora o de Davi, seu pai; Salomão seguiu a Astarote, deusa dos sidônios, e a Milcom, abominação dos amonitas.

Nesse tempo edificou Salomão um alto a Quemós, abominação dos moabitas, sobre o monte que está diante de Jerusalém, e a Moloque, abominação dos amonitas.

E assim fez para todas as suas mulheres estrangeiras, as quais queimavam incenso e ofereciam sacrifícios a seus deuses.  

I Reis 11. 4, 5, 7, 8.

É incrível essa história bíblica. Deus apareceu a Salomão duas vezes. Como pode ser isso?

O Deus transcendental, Todo-Poderoso, aparece duas vezes a um simples mortal, faz-lhe grandes promessas, e mesmo assim a criatura se esquece de Deus e passa a seguir falsos deuses!

Parece-me razoável perguntar: “Qual é o ser humano que tem um encontro pessoal, real – não imaginário, não um simples sonho – com o Deus verdadeiro e depois o abandona para seguir deuses falsos?

Convenhamos, numa linguagem bem popular, acho que algo não bate nessa história. Sinto que, por trás da cortina do teatro, há algo mais profundo e eu gostaria muito de descobri-lo. Tenho minhas suspeitas, mas, como são apenas suspeitas, fica só entre nós dois.

Quem é o outro? – alguém pode estar a pensar.

Eu respondo: a pista está em “A Cabana”.

É a negra enorme, o Papai! 

Após a leitura, uma dúvida ficou na minha mente.

No fim dos tempos, quando o Grande Rei separar as ovelhas dos bodes - aquelas para a direita e estes para a esquerda -, em qual grupo Salomão estará? Entre as ovelhas ou entre os bodes?

segunda-feira, 14 de setembro de 2015

O que Deus está esperando para intervir?

Aylan Kurdy

Por Saulo Alves de Oliveira

Muitas são as imagens tristes e chocantes que nos chegam quase todos os dias das várias partes do mundo, as quais evidenciam de modo inquestionável quanto o ser humano ainda está longe da civilidade total.

Crianças esquálidas morrendo de fome na África subsaariana – a grande parte do continente africano situada ao sul do deserto do Saara. Numa expressão bem conhecida de todos nós, que não é apenas uma simples figura de linguagem mas literal, “só o couro e o osso", verdadeiros cadáveres ambulantes – quando ainda podem andar.

Seres humanos ajoelhados e seus covardes algozes em pé atrás com facas afiadas para lhes cortar as gargantas em nome da estupidez do fanatismo religioso ou político.

Corpos carbonizados ou despedaçados em nome da loucura do fundamentalismo religioso.

Bombas caindo sobre cidades e transformando seres humanos, como eu e você, em pedaços irreconhecíveis.

Levas e mais levas, milhares, milhões de pessoas fugindo das guerras e dos conflitos em seus países de origem.

O corpo sem vida de uma inocente criança de três anos em uma praia da Turquia. Rosto literalmente na terra. E as ondas, no seu vai e vem natural, a lavar aquele pequeno corpo como se gritassem para o mundo, a cada ida e volta, ASSASSINOS! O pequeno Aylan Kurdi fugia do conflito na Síria com sua família e encontrou a morte nas águas do mar Egeu tentando chegar à Grécia. Morreram, ainda, na mesma tragédia, sua mãe, seu irmão de 5 anos e várias outras pessoas.

Vou ser condescendente com os criacionistas e admitir que a Terra só tem seis mil e poucos anos.

Vamos supor, então, que fosse possível viajar no tempo e que você fizesse várias viagens ao passado ao longo desses seis mil anos tendo em suas mãos uma máquina filmadora ou fotográfica. Que imagens você nos traria do passado? Sem levar em conta as diferenças de vestuário, arquitetura e tecnologia próprias de cada época, as imagens que nos chegariam do passado, desde a criação da Terra, seriam exatamente iguais às que nós vemos com frequência nos meios de comunicação dos nossos dias: miséria, dor, fome e injustiças.

Aí eu me pergunto – e tenho consciência de que é muito difícil para um crente formular esse tipo de questionamento (crente aqui com o significado de aquele que crê): “O que Deus está esperando para intervir na história e acabar com esse estado de injustiças que nos atinge desde os primórdios da humanidade? Que a fumaça dos corpos queimados chegue às suas narinas após a autodestruição da humanidade em um holocausto nuclear? Até quando será derramado sangue inocente? Até quando vidas humanas serão destruídas pela maldade do próprio ser humano?”

Só os loucos fazem a si tais perguntas, quererão me exortar.

Então, questiono-me mais uma vez: estaria eu chegando ao limiar da loucura?

sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Não terás nenhum ser humano como tua propriedade

Por Saulo Alves de Oliveira

Eu penso que qualquer pessoa que tem algum conhecimento da Bíblia, mesmo não sendo um teólogo ou um grande biblista, como é o meu caso, e a lê sem fanatismo religioso, concorda que a Bíblia apoiava a escravidão, pelo menos o Velho Testamento. Ainda que se entenda que a escravidão naquela época não tinha o mesmo caráter de um ou dois séculos atrás. Tenho cá minhas dúvidas.

Antes de discordar da afirmação acima, leia ou releia atentamente os seguintes textos: Ex. 21.1-11 e Lv. 25.35-55. Depois fique à vontade para tirar a conclusão que achar conveniente ou correta. 

Eu disse apoiava porque os textos citados estão no VT, mas infelizmente o NT não é taxativamente contrário à escravidão. Nem mesmo Jesus ou qualquer um dos apóstolos se posicionaram de forma explícita contra a escravidão. Ao contrário, Paulo contemporizou com a escravidão no seu tempo (Ef. 6.5-8; Tt. 2.9,10) e Pedro foi ainda mais longe ao ensinar: “Vós, servos, sujeitai-vos com todo o temor aos vossos senhores, não somente aos bons e moderados, mas também aos maus.” 1 Pe. 2.18. Como se sujeitar aos maus senhores, caro irmão Pedro? Não se muda o mundo aceitando passivamente as injustiças.

Lamentavelmente, pelo menos na minha ótica, há um texto bastante representativo do que era a escravidão nos tempos bíblicos do VT. Ei-lo:

“Se alguém ferir a seu servo (ou a sua serva) com um pau, e este morrer debaixo da sua mão, certamente será castigado; mas se sobreviver um ou dois dias, não será castigado; porque é dinheiro seu.” Ex. 21.20,21.

Se o escravo morresse debaixo de pauladas, seu senhor seria castigado. Entretanto, se morresse 24 ou 48 horas depois, em consequência do castigo, seria como se nada tivesse acontecido, pois era propriedade sua.

Se alguém tiver alguma justificativa para Ex. 21.20,21, fique à vontade.

Ainda segundo Ex. 21.26,27:

“Se alguém ferir o olho do seu servo (ou o olho da sua serva) e o cegar, deixá-lo-á ir forro por causa do seu olho. Da mesma sorte se tirar o dente do seu servo (ou o dente da sua serva), deixá-lo-á ir forro por causa do dente.”

Como assim? Cegar ou tirar o dente do servo acidentalmente ou em consequência de espancamentos? São duas situações totalmente distintas. Em qualquer dos casos, simplesmente deixar ir forro era muito pouco.

No primeiro caso, deveria deixar o servo ir livre e devidamente indenizado. No segundo, também deveria deixá-lo livre e indenizá-lo. Todavia, neste último caso, dada a motivação do dano, justo seria aplicar-se ao senhor uma penalidade indenizatória bem mais pesada, de tal forma que o mesmo sentisse fortemente em seu bolso o custo da sua irresponsabilidade bestial, com um agravante: a penalidade financeira de modo algum deveria livrar o agressor de se submeter ao cumprimento da pena legal de privação da liberdade pelo crime hediondo cometido.  

Parece-me que tudo isso teria sido evitado se em vez de 10 fossem 11 os mandamentos, tendo o décimo primeiro mais ou menos as seguintes palavras:

“Não terás nenhum ser humano como tua propriedade.”