sábado, 31 de janeiro de 2015

“Os juízos de Deus só caem sobre os rebeldes...”

 Por Saulo Alves de Oliveira

“... Mas às vezes nos assusta e nos abala”, disse minha amiga.

Não só nos assusta e nos abala, minha amiga. Também nos faz refletir e nos transforma. E às vezes interfere em nossa relação com o próprio Deus.

Os juízos de Deus não caem ou caíram apenas sobre os rebeldes. Muitos inocentes pagaram por crimes ou pecados que não cometeram. Não há como fechar os olhos a essa realidade. Apenas os que sofrem da síndrome do avestruz, que enterra a cabeça, como diz a lenda, não percebem essa verdade tão dura, porquanto está claramente registrada nas páginas da Bíblia em todo o VT. Há inúmeros casos na Bíblia que são moralmente inaceitáveis. E a grande maioria dos crentes hoje é incapaz de sentir a dor daqueles povos antigos castigados por Deus de forma tão cruel. Ao contrário, se regozija com a condenação dos “maus”. Mas, será que todos os “rebeldes” eram maus?

Ao analisar uma determinada situação eu tento sempre me colocar no lugar do outro. Assim eu consigo avaliar melhor como me sentiria se estivesse do outro lado. Tente essa experiência.

Ao fazer isso, procure se livrar, pelo menos por alguns instantes, de toda a carga de doutrinação que você e eu recebemos ao longo das nossas vidas. Por experiência própria sei que não é fácil, porém, com muito esforço, tenho conseguido. Esforce-se por se sentir apenas um observador independente, livre da doutrinação a favor ou contra.

Há inúmeros casos na Bíblia que poderiam ser apresentados, mas, para ser conciso, vou citar apenas um. O caso da saída do povo hebreu do Egito. Coloque-se no lugar de uma mulher egípcia ou de seu filho primogênito, ou mesmo, por que não dizer, de um homem egípcio.

Quantos inocentes, seres humanos e animais, foram mortos pelas famosas “pragas do Egito”?  E o pior: o próprio Deus endureceu o coração do Faraó para que ele não cedesse e deixasse o povo israelita sair daquelas terras. Deus endurece por várias vezes o coração do Faraó para em seguida castigar duramente o povo egípcio e assim matar certamente milhares de inocentes, seres humanos e animais.

Confesso: minha percepção, posto que sou apenas um reles mortal, não alcança a justeza de tais atos.

E a história culmina com a morte de todos os primogênitos – inocentes, repito –, resultado do endurecimento do coração do Faraó provocado pelo próprio Deus (sic).

Você consegue se colocar no lugar de uma mãe egípcia? Ou de uma criança egípcia primogênita, que pagou por algo que não tinha nada a ver?

Por que Deus não foi seletivo e castigou apenas os maus? Acho que jamais entenderei seu decreto.

Eu imagino quantos jovens e crianças foram dormir felizes e alegres juntamente com seus pais naquela fatídica noite. E, na madrugada do dia seguinte, estavam todos mortos.

E não foram mortos apenas seres humanos. Os primogênitos dos animais também foram eliminados. Por quê?

Eu fico a pensar no que os filhos dos egípcios poderiam perguntar a Deus se pudessem falar depois de mortos. São apenas conjecturas que não posso evitar.

“Jeová, por que Tu nos mataste ainda tão jovens, com tantos planos a realizar? Que crime cometemos?”

E as crianças: “Nós nem sabíamos quem era Faraó” ou “Nem sequer sabíamos o que significava povo hebreu” e “Tu, Jeová, ceifaste as nossas vidas ainda na mais tenra idade, quando muitos de nós nem ao menos tínhamos dado os primeiros passos ou balbuciado as primeiras palavras”.

Não há justificativa moral alguma para essas mortes. Por isso os crentes apelam, como último recurso, e para se sentirem bem com suas consciências ou para não sofrerem o “castigo” do Todo-poderoso, para a soberania de Deus, isto é, Deus mata quem Ele quiser, quando quiser e como quiser, não importando o grau de sofrimento e injustiça contido nessa ação.

Deus, pois, é soberano até para fazer um inocente pagar pelo pecado de outrem (sic).

E assim as pessoas aceitam com toda a naturalidade as terríveis histórias de genocídios, extermínios, assassinatos e crueldades cometidos contra seres inocentes no VT.

Felizmente, eu já ultrapassei essa etapa na minha vida há alguns anos e hoje não me conformo mais com essas justificativas.

Se eu tenho alguma explicação para tais fatos? Talvez. Mas aí fica só comigo e Deus.           

sábado, 24 de janeiro de 2015

Dilema

Por Saulo Alves de Oliveira

Um tem certeza de que a sua fé é a verdadeira Fé.

Um outro está convicto de que a verdadeira Fé é a sua.

Um terceiro também não tem dúvidas de que a sua é a verdadeira Fé.

Há, porém, um sério problema nessa história: as três crenças são totalmente divergentes e qualquer um dos três consegue provar, segundo suas convicções, que a sua fé é o Caminho que leva ao verdadeiro Deus.

Qualquer pessoa sensata chegará à conclusão de que, se cada um não respeitar a fé dos outros dois e julgar que lhe cabe ganhá-los ou convertê-los à sua fé a qualquer custo – o que, tratando-se do inaceitável extremismo religioso, poderá ter o significado de decretar a morte dos “infiéis” e a infame execução desse propósito –, estará aceso o estopim de um conflito que tornará impossível a vida em sociedade.

Portanto, qual a solução para esse dilema?