quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

Por que tantos “caminhos¹” a partir da Bíblia?

Por Saulo Alves de Oliveira

Isso não incomoda você? É claro que a pergunta só vale para os cristãos.

Certa vez afirmei:

Se eu fosse Deus não teria “escrito” a Bíblia deixando margem para interpretações tão divergentes. Não teria permitido que os próprios homens definissem quais livros deveriam fazer parte da Minha Carta aos seres humanos. Eu mesmo, pessoalmente, teria feito a escolha.

Por que fiz essa afirmação? Porque a Bíblia não é um livro objetivo. Cada grupo religioso o interpreta a seu bel-prazer e segundo suas conveniências. E isso sempre me incomodou. Portanto se eu fosse Deus teria feito um livro objetivo, um verdadeiro “Manual”, para que todos o entendessem da mesma forma.  

Exemplo bem atual: a Igreja Universal inaugurou recentemente o que o Sr. Edir Macedo chama de “Templo de Salomão” e parece estar dando uma interpretação judaizante ao evangelho, com base na Bíblia, ao utilizar ritos e objetos do Velho Testamento. Não adianta alguém afirmar “a exegese dele está errada”, pois certamente ele julga estar certo e milhares o estão seguindo.

Há algum tempo, conversando com amigos sobre esse tema lhes argumentei com a ideia de comparar a Bíblia com um roteiro claro e objetivo para chegar a qualquer ponto da cidade. Tal ideia me veio à mente para tentar esclarecer melhor o meu pensamento e os meus questionamentos.

Sei que é um exemplo medíocre, fruto de uma mente com muitas carências intelectuais.

Imaginem que sou o mais inteligente dentre todos os seres humanos (o tosco argumento deste comentário contradiz essa ideia boba, não é mesmo?) e falo todos os idiomas (que falácia, hein? Eu mal escrevo em português e, apesar de algumas tentativas, nem sequer me expresso em inglês).

Imaginem que fiz um guia, ou “manual, para qualquer pessoa de qualquer nacionalidade chegar sem erro a qualquer ponto da nossa cidade, esteja onde estiver.

Por acaso estou caminhando na Av. Salgado Filho, em Natal, quando sou abordado por um turista de qualquer parte do mundo que não sabe como chegar a um determinado ponto da cidade. O turista me pergunta qual é o caminho que o fará chegar àquele lugar. Tenho guias ou “manuais” em todos os idiomas e lhe entrego um guia em sua própria língua com todas as orientações possíveis para chegar lá. Indico onde ele está naquele momento e mostro o roteiro para alcançar o ponto desejado.

Para você entender a minha ideia não é imprescindível que eu lhe apresente o “manual”. O que vale mesmo é a compreensão do princípio que estou tentando transmitir. 

E veja que se trata de uma mente que nem é tão brilhante assim. Com muito esforço, talvez atinge a média do ser humano comum. Não tenho a mente insondável e infinita de Deus, o Todo-poderoso, que tem todo o conhecimento que jamais será esgotado pela mente humana.

Se, com todas as informações fornecidas, turistas que procuram o mesmo ponto da cidade fossem parar ou em Ponta Negra ou nas Quintas ou na Ribeira ou na Praia do Meio, o que você diria?

Acredito que, se adaptarmos essa última pergunta à Bíblia, a resposta pode ser desconcertante ou desalentadora. Ou não?

É claro que, possivelmente, há uma explicação racional para isso, no entanto não cabe a este principiante na arte da escrita convencê-lo de coisa alguma. Cabe a você encontrá-la, se assim o desejar, obviamente.  

Todavia, se para você isso não tem a menor importância...

¹Por “caminhos” entenda-se: igrejas, denominações, doutrinas ou interpretações da Bíblia  

sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

Evidências da evolução – Genomas¹ semelhantes

[O genoma humano é semelhante e, em alguns casos, quase igual aos genomas de outros seres vivos]

Com relação a isso, é interessante observar com atenção o genoma da humanidade, e compará-lo aos genomas de vários outros organismos cujas sequências foram até agora desmembradas. Quando se examina a vasta extensão do genoma humano – 3,1 bilhões de letras do código do DNA arranjadas ao longo de 24 cromossomos, várias surpresas aparecem imediatamente.

Uma delas surge quando se verifica que o genoma é realmente pouco usado para codificar a proteína. Apesar de as limitações dos métodos experimentais e de cálculos ainda não fornecerem uma estimativa precisa, há apenas de 20 mil a 25 mil genes que decodificam proteínas no genoma humano. A quantidade total de DNA utilizado por esses genes para decodificar proteínas soma-se a um ínfimo de 1,5% do total. Após uma década esperando encontrar pelo menos 100 mil genes, muitos de nós ficamos pasmos ao descobrir que Deus escreve histórias muito curtas sobre a humanidade. Isso foi algo especialmente chocante, dado o fato de que os cálculos de um gene para outros organismos mais simples, como minhocas, moscas e plantas, parecem estar quase na mesma série, ou seja, por volta de 20 mil.

Outra consequência bastante interessante do estudo de genomas múltiplos é a capacidade de fazer comparações detalhadas de nossa sequência de DNA com as de outros organismos. Por meio de um computador, pode-se escolher determinada extensão do DNA humano e verificar se existe uma sequência semelhante em alguma outra espécie. Se alguém escolher uma região de codificação de um gene humano (ou seja, a parte com instruções para uma proteína), e usá-la para a pesquisa, sempre encontrará uma correspondência bastante significativa com os genomas de outros mamíferos. Muitos genes também encontrarão correspondências diferenciáveis, porém imperfeitas, como peixes. Alguns até encontrarão correspondências com genomas de organismos mais simples, como moscas-das-frutas e vermes cilíndricos. Em alguns casos especiais notáveis, a semelhança irá se estender até os genes de leveduras e mesmo aos das bactérias.

Se, entretanto, escolhermos um pedaço do DNA humano que fica entre os genes, a probabilidade de encontrar uma sequência semelhante nos genomas de outros organismos com uma relação mais distante é reduzida. Não desaparece por completo; por meio de uma busca cuidadosa em computadores, cerca de metade desses fragmentos pode ser equiparada a outros genomas de mamíferos, e quase todos se alinham perfeitamente ao DNA de primatas não-humanos.

O que isso significa? Em dois níveis diferentes, nos fornece um respaldo e tanto para a teoria da evolução de Darwin, ou seja, a descendência de um ancestral comum com a seleção natural atuando em variações que ocorrem de forma aleatória.

Primeiro: no nível do genoma como um todo, um computador pode construir uma árvore da vida tendo como base apenas as semelhanças das sequências de DNA de vários organismos. Tenha em mente que para essa análise não se utiliza nenhuma informação do registro fóssil nem de observações da anatomia de formas de vida atuais. Entretanto, apresenta uma semelhança formidável com as conclusões de estudos de anatomia comparada, tanto de organismos existentes como de restos fossilizados.

Segundo: no genoma, a teoria de Darwin prevê que as mutações que não afetem as funções (a saber, as que se encontram no “DNA lixo”) irão acumular-se de maneira estável com o passar do tempo. No entanto, espera-se que as mutações da região de codificação dos genes sejam observadas com menos frequência, e somente um evento tão raro quanto esse irá proporcionar uma vantagem seletiva e ficará retido durante o processo evolutivo. É exatamente isso que se observa.

Charles Darwin era muito inseguro a respeito de sua teoria da evolução. Talvez por isso tenham se passado quase 25 anos entre o desenvolvimento de sua ideia e a publicação de A Origem das Espécies. Em vários momentos, Darwin deve ter desejado voltar milhões de anos no tempo para observar todos os eventos que sua teoria previa. Claro que ele não podia fazê-lo, nem hoje isso é possível. Contudo, sem uma máquina do tempo Darwin não poderia imaginar uma demonstração digital mais comprobatória de sua teoria do que aquela que encontramos ao estudar o DNA de vários organismos.

Em meados do século XIX, Darwin não poderia saber como seria o mecanismo da evolução por seleção natural. Hoje podemos ver que a variação que ele admitiu como suposição tem o respaldo das mutações que acontecem naturalmente no DNA. Calcula-se que estas ocorram a uma taxa de cerca de um erro a cada 100 milhões de pares de bases por geração (ou seja, falando nisso, como todos nós temos dois genomas, cada um com 3 bilhões de pares, um de nossa mãe e outro de nosso pai, possuímos, grosso modo, sessenta mutações novas que não estavam presentes em nossos pais).

A maioria dessas mutações ocorre em partes não-essenciais do genoma e, portanto, tem pouca ou nenhuma consequência. Aquelas classificadas como partes mais vulneráveis do genoma geralmente são prejudiciais e, dessa forma, eliminadas depressa da população, pois reduzem a adequação reprodutiva. Em raras ocasiões, contudo, uma mutação surgirá ao acaso, oferecendo um leve grau de vantagem seletiva. Essa nova “grafia” de DNA terá um probabilidade pouco maior de ser transmitida a uma geração futura. Durante um longo espaço de tempo, tais eventos raros e favoráveis podem difundir-se amplamente para todos os membros da espécie, resultando, enfim, em importantes mudanças na função biológica.

O estudo dos genomas leva inevitavelmente à conclusão de que nós, humanos, partilhamos um ancestral comum com outras criaturas vivas. Claro que a evidência, por si só, não prova que há um ancestral comum; partindo de uma perspectiva criacionista, tais similaridades poderiam simplesmente demonstrar que Deus usou com êxito princípios de planejamento repetidas vezes. No entanto, como podemos observar, e como foi prenunciado na discussão sobre mutações “silenciosas” em áreas de codificação de proteínas, o estudo detalhado de genomas tornou essa interpretação praticamente insustentável – não apenas sobre todas as outras criaturas vivas, mas também sobre nós.

Como exemplo inicial, vejamos uma comparação entre o genoma humano e o de um camundongo, ambos determinados com muita precisão. O tamanho geral dos dois genomas é, grosso modo, o mesmo, e o inventário de genes que decodificam proteínas apresenta uma semelhança extraordinária. Contudo, observamos depressa outros sinais inconfundíveis de um ancestral comum quando percebemos os detalhes. Por exemplo, a ordem dos genes ao longo dos cromossomos do ser humano e do camundongo é, em geral, mantida com extensões significativas de DNA. Assim, se eu encontrar genes humanos A, B e C, nessa ordem, é provável que ache no camundongo correspondentes de A, B e C também colocados na mesma ordem, apesar de o espaçamento entre os genes poder sofrer alguma variação. Em alguns exemplos, essa correlação estende-se por longas distâncias; virtualmente todos os genes do cromossomo 17 do ser humano, por exemplo, são encontrados no cromossomo 11 do camundongo. Embora se possa defender a ideia de que a ordem dos genes é fundamental para estes funcionarem de modo adequado e, portanto, alguém deve ter elaborado essa ordem em vários atos de criação especial, não há provas, de acordo com a compreensão atual da Biologia Molecular, de que essa restrição precisaria ser aplicada a tais distâncias cromossômicas significativas.

A posição dos humanos na árvore evolucionária recebe apenas um reforço adicional comparada a nosso parente vivo mais próximo, o chimpanzé. Sua sequência de genoma foi agora desvendada, e revela que humanos e chimpanzés são 96% idênticos no DNA.

Mais um exemplo desse relacionamento próximo origina-se de um exame da anatomia dos cromossomos de humanos e de chimpanzés. Os cromossomos são a manifestação visível do genoma do DNA, podendo ser observados em um microscópio ótico na ocasião em que a célula se divide. Cada cromossomo contém centenas de genes. O humano apresenta 23 pares e o chimpanzé, 24. A diferença no número de cromossomos parece uma conseqüência da fusão de dois cromossomos ancestrais, que geraram o cromossomo humano 2. Outro indício de que o humano seja uma fusão aparece quando se estudam o gorila e o orangotango – cada um deles tem 24 pares de cromossomos, como o chimpanzé.

Recentemente, ao se determinar a sequência completa do genoma humano, tornou-se possível observar o local exato onde essa fusão cromossômica deve ter ocorrido. A sequência nesse local – juntamente com o braço longo do cromossomo 2 – é, de fato, extraordinária. Sem entrar em pormenores técnicos, direi apenas que sequências especiais ocorrem nas extremidades de todos os cromossomos de primatas. Em geral, essas sequências não acontecem em mais nenhum outro local. No entanto, são encontradas bem onde a evolução teria previsto, no meio do cromossomo de nosso segundo cromossomo fundido. A fusão que ocorreu à medida que evoluímos a partir de símios deixou seu DNA estampado. Fica muito difícil entender essa observação sem admitir a suposição de um ancestral comum.    

No entanto, outro argumento para a ancestralidade comum entre chimpanzés e humanos vem da observação peculiar daquilo que chamamos de pseudogenes. Estes são genes que apresentam quase todas as propriedades de um manual de instruções de um DNA funcional, mas são perturbados por uma ou mais falhas pequenas que transformam seu roteiro em algo sem sentido. Quando comparamos chimpanzés com humanos, verificamos que aparecem genes raros com uma função nítida em uma espécie, mas não em outra, pois adquiriram uma ou mais mutações nocivas. O gene humano conhecido como caspase-12, por exemplo, suportou muitos golpes para ser derrotado, embora seja encontrado num lugar relativo idêntico no chimpanzé. O gene caspase-12 do chimpanzé trabalha bem, assim como o gene semelhante em quase todos os mamíferos, inclusive os camundongos. Se os humanos surgiram em consequência de um ato sobrenatural, por que Deus se daria ao trabalho de inserir um gene sem função exatamente ali?

Em outro exemplo, houve recentemente muito interesse cercando o gene chamado FOXP2, dada a sua função potencial para o desenvolvimento da linguagem. A história do FOXP2 começou com a identificação de uma única família na Inglaterra; durante três gerações, seus membros tinham sérias dificuldades para falar. Esforçavam-se muito para processar palavras de acordo com as regras gramaticais, compreender estruturas de frases e mover os músculos da boca, da face e das pregas vocais para articular determinados sons.

Num grande esforço de investigação genético-detetivesca, descobriu-se que os membros dessa família tinham uma única letra do código de DNA com a grafia incorreta, no gene FOXP2, do cromossomo 7. O fato de um único gene com um erro sutil de grafia poder causar tamanha deficiência de linguagem sem outras consequências óbvias era bastante surpreendente.

A surpresa logo ficou mais intensa quando se mostrou que a sequência do mesmo gene FOXP2 tinha permanecido estável, de forma extraordinária, em quase todos os mamíferos. A exceção mais dramática, contudo, são os humanos, nos quais duas mudanças substanciais ocorreram na área de codificação do gene, aparentemente há recentes 100 mil anos. A hipótese sugerida por esses dados é de que essas mudanças ocorridas há pouco no FOXP2 podem ter, de algum modo, contribuído para o desenvolvimento da linguagem em seres humanos.              
  
Os exemplos aqui relatados com base no estudo dos genomas, somados a outros que poderiam encher milhares de livros do tamanho deste, fornecem o tipo de respaldo molecular à teoria da evolução que convenceu praticamente todos os biólogos em atividade de que a estrutura de Darwin sobre a variação e a seleção natural está inquestionavelmente correta. Na verdade, para quem, como eu, trabalha com genética, é quase impossível imaginar uma correlação das imensas quantidades de dados surgidos de estudos de genomas sem os fundamentos da teoria de Darwin. Como afirmou Theodosius Dobzhansky, destacado biólogo do século XX (e devoto da Igreja Cristã Ortodoxa do Oriente): “Nada tem sentido na Biologia, exceto à luz da evolução”.

Francis S. Collins, em “A linguagem de Deus”

¹Genoma é o conjunto de todos os genes que se encontram no núcleo de cada célula e que define todas as características e como vai funcionar um ser vivo.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Evidências da evolução – Homologia

[Ou semelhança entre os esqueletos]

Que obra magistral é o esqueleto de um mamífero! Não falo da beleza em si, embora eu ache que seja belo. Refiro-me ao fato de podermos falar em “o” esqueleto mamífero: o fato de uma coisa tão complexa e interligada ser tão esplendidamente diferente de um mamífero para outro, em todos as suas partes, e ao mesmo tempo tão obviamente a mesma coisa em todos os mamíferos.

(...) Vejamos o esqueleto de um morcego. Não é fascinante que cada osso tenha sua contrapartida identificável no esqueleto humano? É identificável graças à ordem em que se ligam uns aos outros. Só mudam as proporções. As mãos do morcego são imensamente aumentadas (em relação ao tamanho total do animal, obviamente), mas ninguém poderia deixar de notar a correspondência entre nossos dedos e os longos ossos nas asas do morcego. A mão humana e a mão do morcego obviamente são – nenhuma pessoa mentalmente sadia poderia negar – duas versões de uma mesma coisa. O termo técnico para essa semelhança é “homologia”.

A asa que o morcego usa para voar e a mão que usamos para segurar são “homólogas”. As mãos do ancestral que humanos e morcegos têm em comum, assim como o resto do esqueleto, furam puxadas, ou comprimidas, parte por parte, em diferentes direções e em diferentes magnitudes, no decorrer das diferentes linhas de descendentes.

Eis outro fato surpreendente. O casco do cavalo é homólogo à unha do nosso dedo médio da mão (ou à unha do dedo médio do pé). O cavalo anda na ponta dos pés de verdade, ao contrário de nós quando dizemos que andamos na ponta dos pés. O cavalo perdeu quase por completo os outros dedos. Nesse animal, os homólogos dos nossos dedos indicador e anular e seus equivalentes nos membros posteriores sobrevivem como minúsculos ossos metacárpicos, ligados ao osso “canhão”, e ficam invisíveis sob a pele. O osso canhão é homólogo ao nosso metacarpo médio, que está sob a pele na nossa mão (ou do metatarso, sob a pele do pé).

As homologias, por exemplo, com nossos dedos médios, ou com os do morcego, são totalmente claras. Ninguém poderia duvidar delas. E, como que para reforçar ainda mais o argumento, às vezes nascem cavalos com uma anomalia: três dedos em cada perna, o do meio servindo como um “pé” de cavalo normal, e os dois laterais dotados de cascos em miniatura.

Os esqueletos de todos os mamíferos são idênticos, mas seus ossos individuais diferem.

Por exemplo, o “osso da sua cabeça”, ou crânio, contém 28 ossos, a maioria unidos em rígidas “suturas”, mas com um osso móvel principal (a mandíbula). E o fascinante é que, afora um ou outro osso ímpar aqui e ali, o mesmo conjunto de 28 ossos, que claramente podem ser rotulados com os mesmos nomes, é encontrado em todos os mamíferos.

Tudo isso é igual, independentemente do fato de as formas dos ossos específicos diferirem muito entre os mamíferos.

O que concluímos de tudo isso? Restringimo-nos aqui a animais modernos, portanto não estamos vendo a evolução em ação. Somos os detetives, chegamos depois à cena do crime. E o padrão de semelhanças entre os esqueletos de animais modernos é exatamente aquele que se deve esperar de animais que descendem de um ancestral comum, alguns mais recentes do que outros.

Richard Dawkins, em "O maior espetáculo da Terra"

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Evidências da evolução – O registro fóssil

A evidência mais convincente da existência da evolução é a descoberta de organismos extintos em estratos geológicos antigos. Uma parte dos restos da biota¹ que vivia em determinado período geológico no passado permanece incrustada, na forma de fósseis, nos estratos que se depositaram naquele período. Cada estrato anterior contém os ancestrais da biota¹ fossilizada no estrato seguinte. Os fósseis encontrados nos estratos mais recentes são com frequência muito semelhantes a espécies ainda vivas ou, em alguns casos, quase idênticos. Quanto mais antigos os estratos em que um fóssil é encontrado – isto é, quanto mais distantes no tempo –, mais ele difere dos espécimes vivos. Darwin argumentou que isso seria de se esperar se a fauna e a flora dos estratos mais antigos tivessem evoluído de maneira gradual até seus descendentes, encontrados nos estratos posteriores, que são mais recentes. 

O que é especialmente convincente nas séries de animais fósseis é que cada tipo de fóssil é encontrado no estrato geológico correspondente. Assim, por exemplo, os mamíferos modernos começaram a evoluir depois do evento da extinção de Alvarez², no início do Paleoceno (há 60 milhões de anos). Nenhum mamífero moderno, portanto, deveria ser encontrado em estratos entre 100 ou 200 milhões de anos de idade, e de fato nenhum jamais foi encontrado.

Outro exemplo: as girafas se originaram em meados do terciário, há cerca de 30 milhões de anos. Seria um transtorno para todas as nossas teorias se subitamente alguém encontrasse um fóssil de uma girafa em estratos do Paleoceno, há 60 milhões de anos. É claro, porém, que nenhum fóssil desse tipo jamais foi encontrado.

Ernst Mayr, em “O que é evolução” 

¹Conjunto dos seres vivos de uma dada região
²Extinção dos dinossauros em virtude do impacto de um asteroide, ou cometa, com a Terra