domingo, 29 de julho de 2012

Apressem-se senhores mercadores da fé

“A avalanche evangélica” é o titulo de uma interessante reportagem de capa da revista CartaCapital de 25/07/2012 acerca do crescimento dos evangélicos no Brasil. Um trecho da reportagem chamou minha atenção. Eu o reproduzo abaixo.
De acordo com dados do Censo de 2010, divulgados recentemente pelo IBGE, os evangélicos somam 42,3 milhões de fiéis, ou 22,2% da população. Trata-se da religião que mais cresce no País, à custa de um lento, mas constante, declínio católico. Os seguidores da Igreja de Roma passaram de 73,6 %, em 2000, para 64,6%, em 2010.

Se mantida a tendência, os evangélicos podem chegar a um terço da população brasileira em dez anos. Não é bem o que os pastores mais otimistas previam, mas ainda assim um grande  feito. Há três anos, o Serviço de Evangelização para a América Latina, organização protestante de estudos teológicos conhecida pela sigla Sepal, estimou que metade dos brasileiros seria evangélica até 2020. Mas o crescimento protestante parece ter atingido o seu ápice nos anos 1990, quando o número de fiéis aumentou 71%. Na década seguinte, a expansão diminuiu o ritmo e ficou em 41%.

“Não me parece crível acreditar que o Brasil terá maioria evangélica em momento algum. Primeiro, porque o declínio católico terá um limite, há um número sólido que não vai desaparecer. Em segundo lugar, porque o protestantismo atualmente recebe pouco mais de uma em cada duas pessoas que abandonam a Igreja de Roma”, avalia o sociólogo inglês Paul Freston, professor da Universidade de Wilfrid Laurier, no Canadá.

Um dos principais estudiosos do protestantismo no Brasil e pós-doutor pela prestigiada Universidade de Oxford, no Reino Unido, Freston avalia que os evangélicos têm potencial para alcançar 35% da população. “Mas as mudanças sociais não serão tão grandes como se imagina. Quanto mais uma religião cresce, mas ela fica parecida com a sociedade na qual está inserida”, diz.

Na mesma linha segue a argumentação do sociólogo Gedeon Alencar, autor do livro Protestantismo Tupiniquim. “Houve um processo de aculturação dos evangélicos que permitiu a inclusão de mais pessoas. Quando eu era criança, os fiéis tinham de vestir roupa sóbria, não podiam usar cosméticos ou qualquer coisa que denotasse vaidade. A tevê era vista com desconfiança, os jovens não podiam praticar esportes. Hoje há os ‘atletas de Cristo’, casas noturnas para evangélicos, blocos de carnaval. Os evangélicos estão cada vez mais parecidos com os brasileiros.”
Depois de ler essa notícia, eu tive o seguinte insight: se se confirmar a previsão de que o crescimento protestante atingiu o seu ápice nos anos 1990 e também a avaliação do sociólogo Freston, é muito provável que daqui a uns 10 ou 15 anos os evangélicos atinjam o patamar dos 35%; a partir daí talvez só ocorra o crescimento absoluto do seguimento evangélico, em decorrência do crescimento vegetativo da população brasileira; isso quer dizer que a “galinha dos ovos de ouro” dos inescrupulosos exploradores da fé terá sua postura substancialmente reduzida.

É claro que sempre haverá crápulas sugadores com suas promessas fantasiosas de prosperidade e curas milagrentas, pois sempre existirão os incautos tolos que lhes darão ouvidos e os acompanharão. É como diz o velho ditado: “o pior cego é aquele que não quer ver”. Mas certamente o campo para comercialização da fé será muito menor.

Há ainda um outro dado muito importante no tabuleiro do jogo da exploração da fé que poderá significar um verdadeiro xeque-mate nas pretensões dos novos candidatos a vendilhões dos templos.

Na mesma edição, CartaCapital traz a seguinte notícia: “Após dois anos de discussões, o relatório do Plano Nacional de Educação (PNE) segue finalmente para o Senado, onde deverá passar por três comissões. Só então vai à sanção presidencial, e as apostas são que seja aprovado apenas em 2014. (...) o principal plano de diretrizes das políticas educacionais do País prevê a ampliação do investimento para 10% do PIB até o fim de 2020. (...) O governo queria aumentar os atuais 5% do PIB na área para 7%, proposta vencida pelos defensores de 10 % da soma de  todas as riquezas produzidas pelo Brasil para a educação pública. (...) contundente, o ministro Mantega evidenciou sua insatisfação ao declarar os riscos nas contas públicas e de “quebrar” a economia do País.”

É claro que mais dinheiro não é condição suficiente para obter-se uma educação de melhor qualidade, não é uma panaceia. Se tais recursos não forem bem aplicados e se também não forem tapados os ralos da corrupção por onde se esvai grande parte do dinheiro público, de nada adiantará. De qualquer forma é uma notícia sem dúvida alvissareira.

Chamo a atenção da Presidente Dilma e do PT: "Não foi por isso que vocês tanto lutaram para chegar ao poder? Agora que chegaram lá, façam a diferença!"

O que tem a ver melhoria da educação do povo brasileiro com o tema deste comentário? Repondo: tudo!

Povo com educação de primeira qualidade, é povo bem informado. Povo bem informado, é povo que sabe questionar. Povo que sabe questionar, é povo não manipulável. Povo não manipulável, é povo livre. Povo livre, é povo que não se deixa dominar pela peçonha dos agentes do mal travestidos de pastores em sua maldita ambição pelo dinheiro a pretexto de pregar o Evangelho.

Portanto, apressem-se senhores mercadores da fé, oportunistas inescrupulosos, pois a seara de vocês em poucos anos poderá estar bastante reduzida.

Ah, como eu espero que esse dia se torne realidade!

Saulo Alves de Oliveira   

sábado, 21 de julho de 2012

Dois pesos, duas medidas

Do teu irmão não exigirás juros; nem de dinheiro, nem de comida, nem de qualquer outra coisa que se empresta a juros.

Do estrangeiro poderás exigir juros; porém do teu irmão não os exigirás, para que o Senhor teu Deus te abençoe em tudo a que puseres a mão, na terra à qual vais para a possuíres. 
Dt 23.19,20

Às vezes eu tenho a impressão de que certas pessoas – sendo mais explícito, alguns pregadores ou defensores da fé cristã –, pensam que todos os seus ouvintes são tolos (para não usar uma palavra mais forte). Eu já tive essa sensação diversas vezes: sentado no banco de uma igreja, vendo TV ou escutando rádio.

Uma observação importante: eu não me julgo mais inteligente do que qualquer um dos meus semelhantes, talvez nem sequer atinja a média dos demais mortais; só um pouquinho acima da mediocridade. E isto já basta.

Na manhã de 29 de junho passado eu vinha do Recife dirigindo meu carro na BR 101. Estávamos, eu e a Sulanira, entre Recife e Goiana. O rádio do carro estava ligado. De repente, uma emissora da região entrou em sintonia. Parece-me que era a Rede Brasil. Era um programa evangélico. O apresentador do programa estava anunciando naquele exato momento que um certo pastor iria continuar uma série de palestras que ele vinha fazendo nas sextas-feiras em defesa da Bíblia.

Bom, o que eu entendi: alguém tinha publicado em um jornal um comentário criticando um texto bíblico, exatamente o citado acima; o jornalista havia afirmado que o texto em destaque estabelecera “leis” diferentes para situações semelhantes, isto é, o israelita não poderia cobrar juros de outro israelita, entretanto poderia fazê-lo no caso de um estrangeiro; o que caracterizava, portanto, o que hoje comumente denominamos “dois pesos, duas medidas”.

Naquele momento, portanto, o pastor iria fazer uma réplica “porque as pessoas leem a Bíblia e não sabem interpretá-la”. A propósito, eu acho que a Bíblia não deveria precisar de interpretação, de hermenêutica ou outros conhecimentos para o seu entendimento, ela deveria ser tão clara e objetiva de modo tal que qualquer pessoa lendo-a, em qualquer lugar do mundo, tivesse uma só compreensão. Eu espero que quem estiver lendo este comentário, faça a hermenêutica correta da minha afirmação.

Muitas pessoas defendem a inerrância da Bíblia, ou seja, o entendimento de que a Bíblia não contém erros ou contradições. Até aí, tudo bem. O problema é quando alguém, numa linguagem bem popular, “força a barra” para tentar esclarecer ou justificar uma suposta contradição. Obviamente, o argumento apresentado pelo pastor não tinha exatamente o objetivo de esclarecer uma contradição, mas não deixava de ser uma evasiva para explicar, digamos, uma dificuldade bíblica.

Vamos ao argumento.

No tocante ao versículo 19, não há nenhuma dificuldade para entendê-lo, pois este é claro: os israelitas não deveriam cobrar juros nos empréstimos concedidos aos seus irmãos, isto é, seus compatriotas. Em outra versão está escrito “A teu irmão não emprestarás à usura...”. O único adendo que o pastor fez foi citar que se tratava de empréstimos a israelitas pobres, fazendo certamente uma interpolação com os textos de Êx 22.25 e Lv 25.35-37. Entretanto, como o Deuteronômio foi ambientado nos momentos finais da jornada dos israelitas após 40 anos no deserto, parece que as palavras finais de Moisés deram uma nova dimensão ao preceito, estendendo-o a todos os israelitas, e não apenas aos pobres. Porém, quanto a isso, não vamos polemizar. O problema está na explicação do versículo 20.

Para demonstrar a não existência de “dois pesos, duas medidas”, o pastor quis justificar o preceito dizendo que ele se referia a “estrangeiros comerciantes”, pois estes, como tais, tinham o objetivo de ganhar “dinheiro”, ou obter lucros com seus negócios, portanto era justo que, por ocasião de empréstimos concedidos pelos israelitas, fossem-lhes cobrados juros. É exatamente este argumento que eu reputo como um enorme contorcionismo ou, como eu disse anteriormente, “um forçar a barra” para justificar o injustificável. Está claro que na Lei Mosaica estavam previstos tratamentos diferentes para tomadores de empréstimos: se se tratasse de um filho de Israel – um compatriota, portanto –, era proibida a cobrança de juros; no caso de um estrangeiro, a cobrança de juros era permitida.

Vamos, pois, dar a César, o que é de César; a Deus, o que é de Deus. Não vamos torcer as palavras para, como eu já disse, justificar o injustificável. 

Há razões para tergiversação? Por que não admiti-lo sem evasivas? Isso estava errado? Isso estava correto? Responda a você mesmo. Não é o propósito deste comentário fazer qualquer julgamento desse tópico da Lei Mosaica, apenas constatá-lo.

Contudo, se o leitor tem conhecimento de um versículo bíblico que evidencie que o “estrangeiro” de Dt 23.20 se referia apenas a “estrangeiros comerciantes”, eu estou pronto a voltar atrás na minha crítica.

Saulo Alves de Oliveira

quarta-feira, 18 de julho de 2012

A imagem fala por si


"As discussões sobre direita e esquerda sempre suscitam pertinentes debates e provocam inesgotáveis reflexões. Convencionou-se de “geleia geral” o atual estágio da política brasileira e esse estado nós podemos creditar aos acordos dos governos de Lula e Dilma na ânsia tresloucada de buscar a ampliação da base de apoio, negociando cargos à direita quanto à esquerda.  Assim, as bandeiras históricas da esquerda foram relegadas a um segundo plano.

Numa das eleições para prefeito o senhor Paulo Maluf emprestou sua imagem para apoiar Marta Suplicy no segundo turno em São Paulo. E as fotos de Maluf e Marta apareceram nos carros e murais pela cidade.

E agora Lula aperta a mão de Maluf pelo apoio a Haddad para sacramentar a aliança entre o PT e o PP. Lula e Maluf de mãos dadas! O partido de origem proletária, que abrigou os exilados e perseguidos políticos, e o partido que conspirou e sustentou a ditadura estão em uma inusitada lua de mel pré-nupcial.

Para ser franco, eu não sei quem comete adultério ideológico nessa história. Mas uma coisa é certa, a coerência foi jogada no lixo."

(Revista CartaCapital de 11 de julho de 2012 – comentário do leitor Athos Ronaldo Miralha da Cunha)

terça-feira, 10 de julho de 2012

Outra divagação

A partir do momento da concepção, passando pelo dia a dia, até o ocaso do ser humano, a vida é uma grande guerra, com inúmeras batalhas.

A maior delas talvez ocorra no ventre da mãe no momento da concepção, quando dezenas de milhões de espermatozoides lutam para fecundar o óvulo e apenas um consegue.

Todos os que estamos vivos vencemos a primeira grande batalha.

Depois, ao longo da vida, ganhamos algumas e perdemos outras.

A última... é invencível.

Isso é simplesmente a vida!

O bom é quando a balança pende para o lado das vitórias.

E esse quadro depende muito do esforço pessoal de cada um.

Portanto, não devemos esperar que as coisas “caiam” do céu.

Saulo Alves de Oliveira

domingo, 8 de julho de 2012

A Natureza é perfeita?

Ainda estava escuro quando de repente acordei. Olhei para o relógio... quatro e quarenta. O fim da madrugada logo chegaria. Me levantei e fui até o banheiro. Não é comum isso acontecer, mas sei que com o passar dos anos tal fato deverá se intensificar, pois os músculos do aparelho urinário ficam mais frágeis. Também com a idade a próstata diz: “Estou presente”. No meu caso, ela ainda está em silêncio. 

De volta à cama, não peguei de imediato no sono. Então me veio à mente o seguinte pensamento: dizem que a Natureza é perfeita, entretanto trata-se realmente de uma verdade inquestionável? Mesmo de olhos fechados eu vi um arco-íris e um belo pôr do Sol. É só disso que me lembro. Em seguida adormeci.

Dias depois eu me lembrei daquela madrugada e refleti sobre o assunto.

A Natureza realmente nos apresenta fenômenos espantosos e maravilhosos.

Talvez o químico veja perfeição na estrutura dos átomos com os núcleos formados por prótons e nêutrons com quantidades específicas de prótons para cada elemento químico, e os elétrons girando ao redor dos seus núcleos. (O número de nêutrons pode variar dando origem a isótopos, mas não é o escopo deste comentário entrar neste detalhe.)

Talvez o astrônomo veja perfeição nas órbitas dos planetas que giram ao redor do Sol sem se chocarem.

Talvez o físico veja perfeição na Lei da Gravidade que nos prende à Terra e não permite que sejamos projetados para o espaço sideral.

Talvez o metereologista veja perfeição no Sol que brilha e na chuva que cai para regar a terra seca.

Talvez o biólogo veja perfeição no desenvolvimento de uma vida humana no ventre da mãe, que começa com apenas duas células e depois de nove meses transforma-se em uma criança perfeita formada por alguns trilhões de células e todos os órgãos necessários para desenvolver-se e crescer.      

Talvez o romântico veja perfeição num belo luar prateado.

Talvez o crente veja perfeição no arco-íris depois da chuva, e no mar que para na praia.
     
São realmente espetáculos que nos fazem exclamar: quanta perfeição e beleza na Natureza! Mas, a mesma Natureza que nos apresenta coisas tão belas que nos encantam, também nos apresenta espetáculos chocantes que nos entristecem. 

O que você acha da criança que vem ao mundo com um gêmeo parasita preso ao seu corpo e que tem de ser extirpado pelos médicos?

O que você acha de gêmeos que nascem ligados pelos crânios ou pelo tórax/abdômen?

O que você acha das crianças que nascem com anencefalia ou muitas outras deformidades chocantes?

O que você acha da criança que vem ao mundo sem braços e sem pernas, apenas cabeça e tronco?

Criança com progéria
O que você acha da “síndrome da morte súbita” que atinge os bebês? (*)

Você já ouviu falar em “progéria”? (*)  

Você sabe o que é “nanismo primordial”? (*)

O que você acha dos “hermafroditas”? (*)

Você sabe por que nos engasgamos? (*) 

O que você acha de um furacão que destrói toda uma cidade ceifando tantas vidas?

O que você acha de um tsunami que arrasa toda uma região provocando a morte de centenas de milhares de pessoas indistintamente, inclusive seres inocentes como crianças e animais?

(O mesmo questionamento é válido para terremotos, vulcões e diversos outros fenômenos que causam desastres naturais.)

O que você acha do Sol que produz um belo crepúsculo e nos proporciona luz e calor mas também causa câncer de pele?

O que você acha da carnificina que ocorre todos os dias nas florestas e savanas com  animais devorando-se uns aos outros? (Não vou nem falar da mortandade provocada pelo homem quando mata para alimentar-se.)

Você já viu um animal ser literalmente devorado vivo por outros animais?

Você já ouviu falar da espécie de vespa Glyptapanteles? Ela deposita seus ovos no interior de uma lagarta. Depois os ovos eclodem e as larvas devoram a lagarta, ainda viva, de dentro para fora. Tomara que o pobre inseto não sinta dor!

Por que os órgãos do prazer e da reprodução são tão próximos ou se confundem com os órgãos que expelem os dejetos dos corpos?

Bem, já chega de tantos exemplos ou aspectos negativos, pois não tenho vocação para sadismo, mas a lista poderia preencher ainda muitas linhas.

Todas as coisas acima foram feitas ou são produzidas pela Natureza, tanto as belas e alegres quanto as tristes e chocantes. Você já refletiu sobre isso? 

Da próxima vez que você afirmar que tudo na Natureza é perfeito, lembre-se disso.

Eu não esqueço!

Saulo Alves de Oliveira

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Divagação

Longe de mim afirmar que já aprendi demais.

Logo eu, cuja inteligência mal chega à média dos demais mortais!

Talvez só um pouco acima da mediocridade.

Sou apenas um iniciante no complexo conhecimento da vida. 

Eu acho que quem diz que tudo sabe é porque ainda nada sabe.

Entretanto eu sempre gostei de questionar a razão de certas coisas e esse meu interesse se intensificou nos últimos [23] anos a partir de determinadas experiências, sendo a primeira a morte da minha sogra [em 1989].

Depois vieram outras experiências e o acesso a outros conhecimentos.

Então eu passei a questionar o porquê de certos fatos partindo da premissa de um Deus onipotente, onisciente e bondoso, e as respostas me fizeram ver através das cortinas.

Então eu mudei.

Saulo Alves de Oliveira