domingo, 16 de dezembro de 2012

O julgamento do “mensalão”

Ministro Ricardo Lewandowski
Dizem que o Supremo Tribunal Federal, no julgamento da Ação Penal 470, mais conhecida como “mensalão”, condenou alguns réus sem provas. Eu não quero acreditar que os Supremos Ministros seriam capazes de tal façanha. Afinal, nós vivemos em uma democracia, na qual vale o princípio que diz “todos são inocentes, até que se prove o contrário”.

Sei que, devido a longa história de impunidade no Brasil, o que importa, para muita gente, é que pessoas acusadas de corrupção sejam condenadas de qualquer forma, ainda que em detrimento da Constituição Federal. Isso e a falta de consciência da cidadania faz com que grande parte da população não dê a mínima atenção para uma agressão à Constituição – o que é o caso, se é verdade o que dizem do Supremo. Portanto, talvez devêssemos inverter o consagrado princípio do Direito e adotá-lo da seguinte forma “todos são culpados, até que se prove o contrário”.

Ministro Joaquim Barbosa
Eu não sou jurista nem um especialista em leis, mas há quem diga que o julgamento do "mensalão" atropelou a Constituição. Bom, não tenho competência para confirmar ou não tal afirmação.

Essa aberração – se é verdade o que dizem do Supremo – é um precedente muito perigoso, pois um dia pode se voltar contra qualquer um, mesmo aqueles que estão aplaudindo a condenação sem provas. Portanto, devemos tomar muito cuidado, pois, como dizia o velho Maquiavel, “quando se violam as leis por uma boa causa, autoriza-se a sua violação por uma causa qualquer”.

Eu já li vários comentários afirmando que o STF condenou sem provas, entretanto não vou citá-los, pois não sei qual o vínculo dos seus autores com o(s) condenado(s) ou com o Partido dos Trabalhadores. Vou citar apenas a opinião do jurista Celso Antônio Bandeira de Mello.   

Ao ser questionado pelo site Última Instância acerca do julgamento do “mensalão”, o Sr. Bandeira de Mello afirmou (leia aqui a entrevista completa):
“O mensalão, na minha visão, não era mensalão porque não era mensal. Isso foi a visão que a imprensa consagrou. Em segundo lugar, entendo que foram desrespeitados alguns princípios básicos do Direito, como a necessidade de prova para condenação, e não apenas a suspeita, a presunção de culpa. Além disso, foi violado o princípio do duplo grau de jurisdição.”
Ainda a respeito da violação do duplo grau de jurisdição, o jurista Dalmo Dallari, no artigo A Constituição ignorada (clique para ler todo o artigo), afirmou:
“... por meio da Ação Penal 470, estão sendo julgados pelo Supremo Tribunal Federal, sem terem passado por instâncias inferiores, acusados que não tinham cargo público nem exerciam função pública quando participaram dos atos que deram base à propositura da ação pelo Ministério Público.
(...)
Essa questão foi suscitada, com muita precisão, pelo ministro Ricardo Lewandowski, na fase inicial do julgamento. Entretanto, por motivos que não ficaram claros, a maioria dos ministros foi favorável à continuação do julgamento de todos os acusados pelo Supremo Tribunal. No entanto, a Constituição estabelece expressamente, no artigo 102, os únicos casos em que o acusado, por ser ocupante de cargo ou função pública de grande relevância, será julgado originariamente pelo Supremo Tribunal Federal e não por alguma instância inferior.

No inciso I, dispõe-se, na letra “b”, que o Supremo Tribunal tem competência para processar e julgar, originariamente, nas infrações penais comuns, “o Presidente da República, o Vice-Presidente, os membros do Congresso Nacional, seus próprios Ministros e o Procurador Geral da República”. Em seguida, na letra “c”, foi estabelecida a competência originária para processar e julgar “nas infrações penais comuns e nos crimes de responsabilidade, os Ministros de Estado e os Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, os membros dos Tribunais Superiores, os do Tribunal de Contas da União e os chefes de missão diplomática de caráter permanente”.

Como fica muito evidente, o Supremo Tribunal Federal não tem competência jurídica para julgar originariamente acusados que nem no momento da prática dos atos que deram base à denúncia nem agora ocuparam ou ocupam qualquer dos cargos ou funções enumerados no artigo 102.

Para que se perceba a gravidade dessa afronta à Constituição, esses acusados não gozam do que se tem chamado “foro privilegiado” e devem ser julgados por juízes de instâncias inferiores.”
Corroborando e colocando mais luz no que disse o Dr. Dalmo Dallari, o advogado criminal Luís Flávio Gomes disse em entrevista ao site Viomundo.com.br (leia aqui toda a entrevista):
“Dos 38 réus da Ação Penal 470, apenas três deles deveriam ser julgados pelo STF; os outros 35, não, pois não têm direito a recurso.

Os que têm de ser julgados pelo STF são os três deputados: João Paulo Cunha (PT-SP), Valdemar da Costa Neto (PR-SP) e Pedro Henri (PP-SP). Até por causa do foro privilegiado, já que são parlamentares, têm que ser julgados pelo Supremo e não há nenhum órgão acima. Por isso são julgados uma só vez.

Já os outros 35 tinham de ir para a Justiça de primeiro grau, serem julgados e, aí, prosseguir o processo. É o que nós chamamos de duplo grau de recurso. Só que eles não tiveram direito a isso. O STF lhes negou.”
Falaram os juristas.

Da minha parte, eu percebi algo muito estranho nesse julgamento. Parece que há interesses inconfessáveis por trás das cortinas.

Por que o julgamento foi marcado justamente para coincidir com as últimas eleições? Mero acaso? Pouco provável. Tinha a intenção de interferir nas eleições? Parece que sim, pelo menos era o que desejava o procurador-geral da República, Sr. Roberto Gurgel. Até aí, tudo bem, ele certamente tem partido.

Mas, que ministros da mais Alta Corte do país tenham partido e julguem segundo essa premissa, é inadmissível e desonroso.

Eu sei que ninguém é imparcial, inclusive Suas Excelências, todavia quem não consegue dominar os seus interesses pessoais não merece estar no mais alto grau da justiça de uma Nação. Julguem com Justiça, Senhores Ministros, e sirvam de exemplo para todos nós.  

Outro aspecto muito estranho foi o fato do Sr. Joaquim Barbosa, relator da ação, aguentar as dores em sua coluna até os últimos momentos antes das eleições. Será que foi por puro altruísmo?

Eu gostaria de acreditar que Sua Excelência de modo algum podia viajar para a Alemanha para tratar-se antes das eleições, mas tinha que ser exatamente na semana posterior ao 2º turno.

Portanto, se os atuais membros do STF querem passar para a História como pessoas dignas dos cargos que ocupam, e merecedoras do respeito de toda a nação, deveriam vir a público e esclarecer todos os pontos obscuros do julgamento do “mensalão”, inclusive apresentar as provas utilizadas para condenar determinados réus.  

E por que não? Eles são funcionários do Estado Brasileiro e, em última instância, nós, povo, pagamos os seus salários. E como tais, nos devem satisfação sim.

Os senhores Joaquim Barbosa e Ricardo Lewandowski e os demais membros do STF nada são mais do que você ou eu. Não se pode negar sua elevada capacidade intelectual e seu grande saber jurídico. Mais isso não os faz mais nem menos humanos ou seres superiores.    

Os magistrados de nossa Corte Suprema devem ser pessoas de elevada cultura e de notório saber jurídico, pelo menos é o que eu penso, mas em um aspecto são iguais a todos os humanos, são feitos de carne e ossos e, depois de mortos, apodrecerão tal como qualquer ser vivo, do próprio ser humano ao mais insignificante verme, e serão comidos pelos bichos, ou, no máximo, se cremados, virarão pó e cinza, nada mais. Então, por que tanta empáfia e arrogância de alguns?

Senhores ministros e senhoras ministras, Vossas Excelências estão circunstancialmente no STF, não no Monte Olimpo.

Saulo Alves de Oliveira

Obs: Todos os grifos são meus

domingo, 2 de dezembro de 2012

Perguntar a Deus se vai chover!? Parece-me surreal

Eu li no Facebook as seguintes palavras de um conhecido Pastor:
“Certo dia fiz uma Cruzada Evangelística no Estado do Rio de Janeiro, toda Igreja estava preparada para esse grande dia, mas nesse dia ouve uma grande tempestade, muita chuva, mas muita chuva mesmo! Terminou a Cruzada e fui buscar a Deus em oração e lhe perguntei: Deus, por que o Senhor mandou chuva no dia da minha cruzada? Deus respondeu: Meu filho, você é que fez a cruzada no dia  da minha chuva...”

“Obs: Antes de você fazer qualquer coisa consulte a Deus primeiro. Compartilhem...”
Eu penso da seguinte forma: se a chuva tivesse sido apenas uma ameaça, talvez dissessem que sua não ocorrência foi devido à fé ou à oração, mas como ela aconteceu... eis a explicação.

Também não entendi a ligação que o Pastor fez da sua experiência com a sugestão de que “Antes de você fazer qualquer coisa consulte a Deus primeiro”.

Afinal, se nós vamos fazer uma cruzada, ou qualquer outro evento público, daqui a seis meses ou um ano, por exemplo, devemos consultar a Deus se naquele dia vai chover ou vai fazer sol?

Parece-me algo totalmente surreal.

Todavia, será que a deficiência está em mim?

Saulo Alves de Oliveira

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Brasil tem o maior ganho de bem-estar em 5 anos

Entre 150 países, Brasil tem o maior ganho de bem-estar em 5 anos
Fonte: Valor Econômico
Notícia publicada em: 27/11/2012
Autor: Arthur Pereira Filho


O Brasil foi o país que melhor utilizou o crescimento econômico alcançado nos últimos cinco anos para elevar o padrão de vida e o bem-estar da população. Se o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro cresceu a um ritmo médio anual de 5,1% entre 2006 e 2011, os ganhos sociais obtidos no período são equivalentes aos de um país que tivesse registrado expansão anual de 13% da economia.

A conclusão é de levantamento feito pela empresa internacional de consultoria Boston Consulting Group (BCG), que comparou indicadores econômicos e sociais de 150 países e criou o Índice de Desenvolvimento Econômico Sustentável (Seda, na sigla em inglês), com base em 51 indicadores coletados em diversas fontes, como Banco Mundial, FMI, ONU e OCDE.

O desempenho brasileiro nos últimos anos em relação à melhoria da qualidade de vida da população é devido principalmente à distribuição de renda. "O Brasil diminuiu consideravelmente as diferenças de rendimento entre ricos e pobres na década passada, o que permitiu reduzir a pobreza extrema pela metade. Ao mesmo tempo, o número de crianças na escola subiu de 90% para 97% desde os anos 90", diz o texto do relatório "Da riqueza para o bem-estar", que será oficialmente divulgado hoje. O estudo também faz referencia ao programa Bolsa Família, destacando que a ajuda do governo as famílias pobres está ligada à permanência da criança na escola.

Nessa comparação de progressos recentes alcançados, o Brasil lidera o índice com 100 pontos, pontuação atribuída ao país que melhor se saiu nesse critério de avaliação. Aparecem a seguir Angola (98), Albânia (97,9), Camboja (97,5) e Uruguai (96,9). A Argentina ficou na 26ª colocação, com 80, 4 pontos. Chile (48º) e México (127º) ficaram ainda mais atrás.

Foram usados dados disponíveis para todos os 150 países e que fossem capazes de traçar um panorama abrangente de dez diferentes áreas: renda, estabilidade econômica, emprego, distribuição de renda, sociedade civil, governança (estabilidade política, liberdade de expressão, direito de propriedade, baixo nível de corrupção, entre outros itens), educação, saúde, ambiente e infraestrutura.

O ranking-base gerou a elaboração de mais três indicadores, para permitir a comparação do desempenho, efetivo ou potencial, dos países em momentos diferentes: 1) atual nível socioeconômico do país; 2) progressos feitos nos últimos cinco anos; e 3) sustentabilidade no longo prazo das melhorias atingidas.

Como seria de se esperar, os países mais ricos estão entre os que pontuam mais alto no ranking que mostra o estágio atual de desenvolvimento. Nessa base de comparação, que dá conta do "estoque de bem-estar" existente, a lista é liderada por Suíça e Noruega, com 100 pontos, e inclui Austrália, Nova Zelândia, Canadá, EUA e Cingapura. Aí o Brasil aparece em posição intermediária, com 47,8 pontos.

Para Christian Orglmeister, diretor do escritório do BCG em São Paulo, o desempenho alcançado pelo Brasil é elogiável, mas deve ser visto com cautela. "Quando se parte de uma base mais baixa, é mais fácil registrar progresso. O Brasil está muito melhor do que há cinco anos em várias áreas, até mesmo em infraestrutura, mas é preciso ainda avançar muito mais."

Entre os países que ocupam os primeiros lugares nesse ranking de melhoria relativa dos padrões de vida da população nos últimos cinco anos, a renda per capita anual é muito diversificada, indo desde menos de US$ 1 mil em alguns países da África até os US$ 80 mil verificados na Suíça. Além do Brasil, mais dois países sul-americanos - Peru e Uruguai - aparecem na lista dos 20 primeiros. Também estão nela três países africanos que em décadas passadas estiveram envolvidos em guerras civis - Angola, Etiópia e Ruanda - e que nos anos recentes mostram fortes ganhos em relação a padrão de vida. Da Ásia, aparecem na relação Camboja, Indonésia e Vietnã.

Nova Zelândia e Polônia também integram esse grupo. O crescimento médio do PIB neozelandês foi de 1,5%, mas a melhora do bem-estar foi semelhante à de uma economia que estivesse crescendo 6% ao ano. Na Polônia e na Indonésia, que atingiram crescimento médio do PIB de 6,5% ano, o padrão de vida teve elevação digna de uma economia em expansão de 11%.

O estudo também compara o desempenho recente dos Brics - além do Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul - na geração de mais bem-estar para os cidadãos. Se em relação à expansão da economia, o Brasil ficou atrás dos seus parceiros entre 2006 e 2011, o país superou a média obtida pelo bloco em áreas como ambiente, governança, renda, distribuição de renda, emprego e infraestrutura, diz Orglmeister. China, Rússia, Índia e África do Sul aparecem apenas em 55º, 77º, 78º e 130º, respectivamente, nessa base de comparação, que é liderada pelo Brasil.

O desafio brasileiro, agora, é manter esse ritmo no futuro, afirma o diretor do BCG. "O Brasil precisa avançar em quatro áreas principalmente", diz. "Na melhora da qualidade da educação, na infraestrutura, na flexibilização do mercado de trabalho e nas dificuldades burocráticas que ainda existem para fazer negócios no país."

Para Douglas Beal, um dos autores do trabalho e diretor do escritório do BCG em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, embora os indicadores reunidos para produzir o Seda pudessem ser utilizados para produzir um novo índice, esse não é o objetivo do levantamento. "A meta é criar uma ferramenta de benchmarking, que possa fornecer um quadro amplo, com base no qual os governos possam agir."

Veja a íntegra do relatório em www.bcg.com

(Transcrito de http://www.tudofarma.com.br)

terça-feira, 27 de novembro de 2012

Divagando sobre Israel e os palestinos

Eu acho muito estranho certas atitudes de muitos cristãos.

Por que os cristãos, particularmente os evangélicos, se preocupam tanto com Israel e se esquecem dos outros povos, especialmente os palestinos?

É pedido de oração por Israel, é desejo de paz para Israel, é defesa incondicional de Israel.

E os palestinos, não precisam de oração, de paz e de uma pátria?

Defender qualquer coisa ou alguém incondicionalmente, incluindo Israel, é uma flagrante injustiça.

Os israelenses sofrem com os ataques do Hamas, mas os palestinos também sofrem, e muito mais, com os ataques de Israel.

Crianças e civis palestinos também estão sendo mortos pelo exército israelense, um dos mais bem equipados do mundo.

Eu não sei por que se deve "passar a mão" na cabeça de Israel.

Vamos apoiar os judeus quando eles forem injustiçados, mas vamos criticá-los quando eles cometerem injustiças.

Sinceramente, eu não tenho nenhum compromisso com apoio incondicional a Israel.

Nem com qualquer outro povo.

Saulo Alves de Oliveira

sábado, 24 de novembro de 2012

Matar um animal é o mesmo que “matar” uma alface?

Um dia, talvez daqui a 500 ou 1.000 anos, quando a humanidade tiver atingido a plenitude da consciência moral e entender que os animais têm direito à vida tanto quanto nós humanos, matar um animal será considerado um crime similar ao assassinato de qualquer ser humano. Ou, quem sabe, bem antes disso, quando a ciência tiver nos livrado da dependência da proteína animal, os nossos descendentes olhem para o passado e exclamem com indignação: “Como nossos ancestrais [inclusive nós, em pleno século 21] eram bárbaros!”

Não é uma piada. Há quem julga que matar um animal é o mesmo que “matar” uma alface.

Quer comer carne, tudo bem. Não é crime assassinar um animal! Ainda! Eu também como, pouco, mas como.

Agora esse quadro é uma agressão à inteligência. Eu queria usar uma expressão mais forte, mas acho que, ainda que certas ideias sejam totalmente inconsistentes, devemos sempre respeitar os seus autores. Pode-se viver comendo pedras? Alface sente dor? Alface tem pavor? Já viram jorrar sangue de uma alface? Já viram o desespero de uma alface ou de uma beterraba no exato momento do assassinato? Alguém já viu uma cenoura debatendo-se no chão, esvaindo-se em sangue, com o pescoço degolado?  

Ah, comer carne é uma Lei da Natureza. Não há como mudar. E há coisas muito mais importantes do que se preocupar com milhões de animais que são sacrificados todos os dias, diriam alguns. 

Na natureza selvagem os animais velhos ou doentes morrem à míngua ou são devorados por outros animais. Essa é uma implacável Lei da Natureza. Por ser assim, nós devemos deixar que os nossos velhos, os deficientes e os doentes morram sem nenhuma atenção?

Felizmente nós humanos já ultrapassamos há muito tempo a época em que não passávamos de feras nas florestas e vivíamos apenas segundo suas leis. Hoje, nós temos médicos, hospitais, clínicas, pesquisas, abrigos e muitos outros recursos para lutar contra certas leis da natureza. O que é um antibiótico ou uma cirurgia? O que são as pesquisas com células-tronco?

Há exemplo melhor do que uma cesariana para provar que muitas vezes nós vencemos as leis da natureza? Quantas mulheres morreriam hoje, como morreram no passado, se não existisse esse recurso? Nem sempre vencemos, é claro, mas estamos sempre lutando. Parabéns aos pesquisadores e médicos que salvam tantas vidas! Ainda há muitas falhas, mas nós humanos, seres racionais (?) devemos lutar para que a cada dia mais e mais idosos e pessoas mais fracas ou doentes tenham uma vida melhor, contrariando as Leis da Natureza.

Portanto, o fato de ser uma Lei da Natureza não quer dizer que devamos aceitá-la passivamente e deixar de fazer alguma coisa para mudá-la, já que essa lei específica é a causa de tanto sofrimento de seres que nada podem fazer para modificá-la. O ser humano pode.      

Há centenas de milhares de anos nossos ancestrais já comiam carne. Num passado muito distante nossos ancestrais também eram feras e matavam para sobreviver. Essa é uma Lei da Natureza que ainda hoje persiste entre os animais irracionais e também entre nós, animais ditos racionais (?). Será que somos realmente racionais em toda amplitude do termo? Os irracionais, parece que não se comovem com o sofrimento de suas presas, e nós, autodenominados racionais, nos comovemos? Será que não somos tão irracionais quanto eles?

Sei que comer carne é uma questão cultural, que vem dos primórdios da humanidade, portanto é muito, muito difícil mudar. Porém isso não quer dizer que devamos ser insensíveis ao sofrimento de milhões de seres vivos que, como nós, sofrem, sentem dor e têm tristeza pela separação dos seus parentes.

Para finalizar, eu gostaria de perguntar: dos quatro grupos de elementos abaixo, qual deles nós temos certeza absoluta de que sofre, sente dor, sente pavor e, como nós humanos, derrama sangue quando é cortado?

a) pedras
b) micro-organismos
c) verduras, alface, vegetais (*)
d) animais.

(*) nós ainda não sabemos se as plantas sentem dor ou não, pode ser que um dia descubramos

Saulo Alves de Oliveira

domingo, 11 de novembro de 2012

Titanic: castigo ou acidente?



Às vezes eu fico muito assustado com a interpretação que algumas pessoas dão a certos fatos atribuindo-lhes a conotação de supostos atos de Deus. E o pior é quando pessoas inteligentes e com boa formação cultural, além do fato de serem religiosas, pensam assim. Então eu me pergunto: por que é que a religião faz certos indivíduos aceitarem passivamente determinadas crenças deturpadas ou visões tão absurdas? Se é correto atribuir tais atos a Deus, seria correto perguntar: Deus comete injustiça?     

Vamos a um caso específico. Trata-se da imagem acima, que faz alusão ao Titanic.

A imagem mostra um navio no mar sendo afundado por um enorme dedo, que, obviamente, representa Deus. Acredito não deva ser difícil chegar a essa conclusão quando se lê as frases “Olha o que acontece com homem que brinca com Deus. Cuidado! Com Deus não se brinca!”

Para aqueles que, eventualmente, não lembram da história do Titanic, eu vou apresentar uma rápida descrição. A tragédia aconteceu há pouco mais de cem anos.

O Titanic foi um grande navio construído no início do século passado. Em 1912, por ocasião do seu lançamento, era o maior navio de passageiros do mundo. Era dotado das mais avançadas tecnologias da época e era tratado como “inafundável”.

Na noite de 14 de abril de 1912, por ocasião da viagem inaugural entre a Inglaterra e Nova York, nos Estados Unidos, o grande navio chocou-se com um “iceberg” no oceano Atlântico e já na madrugada do dia 15, duas horas e quarenta minutos após, afundou.

O navio tinha 2.240 pessoas a bordo, das quais 1.523 pereceram no naufrágio, que ficou conhecido como uma das maiores catástrofes de todos os tempos.

Conta-se que o construtor daquele navio de passageiros, o maior de sua época, no dia de lançá-lo ao mar, respondeu da seguinte forma, a uma repórter que lhe perguntou a respeito da segurança do navio: “Minha filha, nem Deus afunda este navio”.

A partir daí algumas pessoas acreditam que Deus afundou o Titanic simplesmente para castigar ou para dar uma lição ao seu construtor (sic). Que lição terrível, matar 1.523 pessoas para ensinar a uma só pessoa que de Deus não se zomba! Realmente para mim é incompreensível, tanto quanto inaceitável, que seres humanos racionais possam pensar dessa forma e se conformar com esta perturbadora ideia.

Então, nós devemos mesmo acreditar que Deus se vingou do construtor do Titanic matando centenas de pessoas afogadas? Se isso é verdade, não foi uma terrível injustiça? Que culpa tinham aquelas pessoas? Como se pode punir alguém pelo pecado ou erro de outrem? Isso está longe de qualquer critério de justiça.

Ao fazer esses questionamentos, alguém me disse assim: “Não devemos tentar, pela nossa própria concepção, decifrar os feitos de Deus!”

Essa forma de pensar me parece própria de quem tem receio de questionar certos aspectos relacionados a Deus porquanto tem medo de estar agredindo a sensibilidade do Criador, sendo, por conseguinte, passível de castigo. Eu sei, não poucas pessoas pensam assim.

Bom, eu não tenho como tentar entender os feitos de Deus a não ser através das concepções de justiça que o ser humano desenvolveu ao longo de toda a sua história, e que vem evoluindo com o passar do tempo, pois eu não sou um Deus, sou apenas um humano. E, consequentemente, não posso pensar como Deus. Apesar disto, tal fato não anula a capacidade crítica que o meu cérebro me proporciona. E, devo ressaltar, não é exclusividade minha.

Que Deus é esse que não pode ser questionado racionalmente por mim ou por você, seres racionais? Seria Deus um tirano ranzinza, atacado pela raiva, cheio de rancor e vingativo que não suporta ouvir questionamentos das suas criaturas sem castigá-las de imediato? Eu já pensei assim também. Felizmente há muito tempo me livrei dessa concepção deturpada acerca de Deus.

A mesma pessoa disse-me ainda: “Deus é soberano. Ele faz como bem quer, com quem quer e quando quer!”

Até matar, por vingança, ou torturar pessoas inocentes?

Infelizmente há pessoas que pensam exatamente assim e não têm o menor pudor ao afirmá-lo. Certa vez eu ouvi o Sr. John Piper, pastor americano, afirmar que Deus dá a vida a seres humanos e a tira ao seu arbítrio, isto é, quando e da forma que Ele quiser, não importando o grau de sofrimento ou de crueldade envolvidos na morte de qualquer pessoa, do recém-nascido ao ancião.

Eu só posso entender que pensar assim é dizer: Deus é um tirano absoluto que não está nem aí para todo o sofrimento que pode causar a alguém, mesmo um ser inocente como uma criança. Você acha que se uma criança é torturada dias ou meses a fio com um câncer em seu cérebro é porque “Ele [Deus] faz como bem quer” esse câncer? Há muitos outros exemplos terríveis.

Sinceramente, isso me aflige e me deixa estupefato. Como é que seres humanos, em pleno uso de suas faculdades mentais, podem conceber esse tipo de pensamento? Por que a religião às vezes leva pessoas normais a aceitarem tranquilamente como normais ideias tão absurdas? E o pior: apresentam todas as justificativas para defendê-las, e suas consciências não lhes tocam.    

Voltando ao Titanic. Na realidade, o meu desejo é tentar fazer as pessoas entenderem que Deus não teve nada a ver com o naufrágio do Titanic, caso contrário Ele é um ser extremamente injusto. Deus não estava castigando o construtor do Titanic por suas palavras, muito menos todas aquelas pessoas que morreram. O que aconteceu foi simplesmente um acidente, como acontece todas os dias em todos os lugares, sejam provocados por fenômenos naturais (tsunamis, terremotos, vulcões, chuvas torrenciais etc) ou não (falhas em máquinas construídas pelo homem ou falhas do próprio ser humano, como quedas de aviões, batidas de ônibus, trens ou automóveis e acidentes diversos). Há ainda os lamentáveis “acidentes” provocados por falhas no próprio caráter humano que fazem inúmeras vítimas, tais como: guerras, brigas, desentendimentos entre pessoas ou entre nações etc.

Contudo, não pretendo convencer ninguém de coisa alguma, pois não sou o dono da verdade. Quero somente colocar alguns pontos de vista para reflexão, se as pessoas julgarem que vale a pena.

Para concluir, eu vejo apenas duas alternativas – bom, pode haver outras, entretanto minha percepção não as alcança: ou o naufrágio do Titanic foi um simples acidente ou Deus é injusto. Você fica com qual alternativa?

Saulo Alves de Oliveira

domingo, 4 de novembro de 2012

Crianças jamais deveriam sofrer

Os comentários abaixo têm como base uma imagem que publicaram no Facebook. Infelizmente eu percebi que nela havia gravíssimos erros de português. Como eu não sei efetuar a correção na própria imagem, resolvi não publicá-la neste blog. Entretanto vou descrevê-la para que se possa ter uma compreensão melhor dos comentários.

Trata-se de uma fotografia de uma criança negra, com aproximadamente 2 ou 3 anos, suja e vestindo trapos igualmente imundos, dormindo deitada num chão de terra. A imagem apresenta as seguintes palavras: “Então você vive reclamando da sua cama e de seu colchão? Peça perdão a Deus e comece a agradecer por tudo”.

Portanto, tenham em mente o quadro descrito acima ao ler os comentários que se seguem.  

Meu comentário: E o garoto dessa foto deve agradecer a quem? Quem vai pedir perdão a ele? Deus?

Amigo 1: "O melhor é entender que esse garotinho, possivelmente, agradeça a Deus pela vida, pelo sono tranquilo e pelo chão onde repousa... Um testemunho para os que têm mais que isso e nem sempre agradecem!"

Amigo 2: “Concordo com você, Amigo 1, e acrescento: Deus não pede perdão à sua criatura, seja ela adulta ou criança. E o garotinho não tem que pedir perdão a Deus, nem a ninguém, até porque a Bíblia diz que o reino dos céus é dele. Quem tem que pedir perdão a Deus são aqueles que receberam dádivas e não são gratos, são os governantes que tendo em suas mãos o poder de fazer o bem não o fazem, são os que são soberbos e acham que podem reclamar de Deus, ou, de tão orgulhosos, imaginam que podem até mesmo duvidar da Palavra de Deus, que pergunta: ‘De que se queixa o homem?’, e Ela mesma responde: ‘Queixe-se dos seus próprios pecados’. Ah, sim, o pecado dos homens é a razão primeira desse garotinho estar ao relento.”

Réplica ao Amigo 1: Quem não conhece o melhor contenta-se com o pior. Talvez ele não saiba o que é um colchão macio, ou um agradável banho para ficar limpinho, ou o que é vestir uma roupa cheirosa. Portanto, apesar de imundo e vestindo trapos, ele parece dormir tranquilo no chão de terra. Isso, entretanto, não impede que reconheçamos que essa não é a vida que qualquer criança merece ter, especialmente com os recursos de bem-estar disponíveis no mundo moderno. Tenho certeza absoluta que qualquer um de nós se sentiria chocado e profundamente angustiado se um de nossos filhos vivesse nessas condições precaríssimas. Quem de nós agradeceria a Deus ao ver seu filho, uma inocente criança, imundo e maltrapilho dormindo no chão de terra?  Você, Amigo 1? Você, Amigo 2?

Desculpe, Amigo 1, é apenas a minha opinião, mas eu acho sua afirmação muito simplista. O garoto deve agradecer a Deus pelo sono tranquilo e pelo chão duro e sujo onde dorme porque a situação dele poderia ser pior? Essa forma de pensar implica uma regressão terrível de conformismo, isto é, eu devo agradecer a Deus porque sempre vai haver alguém em uma situação pior do que a minha. Qual o limite desse desdobramento? Se eu ganho um bom salário, eu devo agradecer a Deus porque alguém ganha um salário modesto. Se eu ganho um salário modesto, eu devo agradecer a Deus porque alguém vive com um salário mínimo. Se eu ganho um salário mínimo, eu devo agradecer a Deus porque outros vivem da ajuda de parentes. Se eu vivo da ajuda de parentes, eu devo agradecer a Deus porque outros vivem esmolando. Se eu vivo esmolando, eu devo agradecer a Deus porque outros nem isso podem fazer e morrem de fome. Então, eu devo agradecer a Deus porque estou morrendo de fome? Esse é apenas um exemplo, mas existem muitos outros que poderiam ser citados. Para mim essa é a lógica do quadro apresentado com a criança deitada, suja e em trapos. Eis a razão do meu questionamento inicial

Evidentemente eu posso estar totalmente equivocado, pois não sou o depositário da verdade. Essa réplica é apenas para reflexão de quem ler esses comentários, pois só refletindo e questionando a gente pode chegar a conclusões moralmente razoáveis.      

Réplica ao Amigo 2: Então uma criança pode se queixar, porquanto ela não tem pecados! Infelizmente nem isso as crianças fazem, pois, além de não terem consciência do pecado, nem mesmo do seu próprio sofrimento elas têm consciência e nem sequer sabem por que sofrem. “O pecado dos homens é a razão primeira desse garotinho estar ao relento”. Eu escuto essa justificativa desde a minha mais tenra idade, e ela já me satisfez. Hoje, não mais. Eu sei que se analisarmos a situação tão somente sob a ótica da maldade humana, do seu egoísmo e mesquinhez, abstraindo Deus, essa é uma afirmação verdadeira. Entretanto, quando se analisa sob o ponto de vista da interferência Superior no desenrolar dos acontecimentos, e que Deus tem tudo sob controle, as coisas deixam de ser tão simples assim. Uma criança inocente paga ou sofre pelo pecado de outros? Isso foge a qualquer senso de justiça. Cada um deve pagar pelos seus próprios erros ou pecados. E uma criança não tem pecados, portanto não merece de forma alguma sofrer. Aqui ou em qualquer outro lugar do mundo, sejam seus pais cristãos ou não, crentes ou céticos. 

Saulo Alves de Oliveira

sábado, 3 de novembro de 2012

Divagando sobre o julgamento do "mensalão"

Eu gostaria de acreditar que o julgamento do “mensalão” foi marcado para as semanas anteriores às eleições por simples acaso.

Ah, como eu gostaria de acreditar que o julgamento do “mensalão” não tinha a intenção proposital de interferir nas últimas eleições! 

Eu gostaria de acreditar que todos os ministros do STF são imparciais e não são influenciáveis pela mídia.

Eu gostaria de acreditar que o Sr. Joaquim Barbosa é um sábio que julga com justiça.

Eu gostaria de acreditar que o Sr. Ayres Brito, que vai se aposentar este mês, não fez tudo o que foi possível somente para passar para a história como o Presidente do Tribunal que condenou os réus do “mensalão”.    

Eu gostaria de acreditar que o Sr. Ayres Brito teve compromisso única e exclusivamente com a Justiça.

Eu gostaria de acreditar que o Sr. Lewandowski estava totalmente errado em algumas decisões contrárias ao Relator do processo.

Eu gostaria de acreditar que o Sr. Joaquim Barbosa aguentou as dores até os últimos momentos antes das eleições por puro altruísmo. 

Eu gostaria de acreditar que o Sr. Joaquim Barbosa de modo algum podia viajar para a Alemanha para tratar-se antes das eleições, mas tinha que ser exatamente na semana posterior ao 2º turno.

Eu gostaria de acreditar que a grande mídia deu ampla repercussão ao caso pelo simples compromisso com a notícia e que se fossem “certos” réus ela agiria da mesma forma, pois a Veja, a Globo e outros meios de comunicação são imparciais.

Eu gostaria de acreditar que o Jornal Nacional do dia 23/10 gastou 18 dos 32 minutos daquela edição simplesmente pela importância da notícia e que nada tinha a ver com a eleição no domingo seguinte.  

Eu gostaria de acreditar que os magistrados do Supremo se basearam em evidências irrefutáveis para condenar o José Dirceu.

O grande problema é que duas vozes falam aos meus ouvidos. Uma diz à minha direita que eu devo e a outra diz à minha esquerda que não. O que fazer?

Saulo Alves de Oliveira

domingo, 21 de outubro de 2012

Eleição na floresta

Águia americana
A floresta estava em grande agitação. É que estavam próximas as eleições para escolha dos representantes dos animais no Conselho da Floresta.

Havia muitos candidatos aos cargos no Conselho. Do pequeno e frágil Esquilo ao grande e poderoso Elefante. Nesse meio, cinco animais se destacavam. Eram conhecidos pelos nomes de Águia, Búfalo, Cobra, Dingo e Carneiro.

Interessante é que todos eles professavam os mesmos princípios morais e diziam que eram “a Luz da floresta” e “o Sal das matas”, numa alusão às suas supostas práticas de higiene moral em relação aos demais animais considerados sujos e impuros. Ah, todos diziam também que só eles iriam morar com o “Poderoso Reis dos Animais, o Grande Leão”, quando este estabelecesse o seu grande reino de justiça na floresta. Afirmavam também que os outros animais, que não compartilhavam as suas ideias, seriam jogados no vulcão cheio de lava ardente e lá permaneceriam para sempre.              

Na eleição anterior, Águia tinha sido candidata a um cargo no Conselho da Floresta. Búfalo, seu amigo, dera todo o apoio a Águia. Esta, entretanto, não teve êxito em sua campanha e, evidentemente, não foi eleita.

Passadas quatro primaveras, agora era tempo de nova eleição. Não sei por qual motivo Águia não quis se candidatar novamente. Então foi a vez de Búfalo. Como Búfalo era seu amigo, Águia, agradecida pelo apoio que tivera na campanha anterior, resolveu apoiá-lo agora e trabalhar pela sua eleição.

Acontece que Cobra, de escrúpulos questionáveis, também se candidatou e, por sua característica física furtiva rastejante, dominava várias áreas da floresta, além de ter fácil acesso a animais mais poderosos.

(Se fosse no mundo dos humanos eu diria assim: tem muito dinheiro e muita influência sobre alguns grupos sociais bem organizados, especialmente no que diz respeito às pessoas mais pobres ou carentes e menos politizadas, além do apoio de um grupo político forte)

Cobra, então, resolveu “negociar” – para usar uma palavra mais suave – o apoio de alguns emplumados ou quatro patas.

Chamou Águia e disse: “Abandone a campanha de Búfalo e venha para o meu lado que você será muito bem recompensada. Eu posso conseguir para você a concessão de um grande despenhadeiro a partir do qual você poderá apresentar, para toda a floresta, seus belos e majestosos voos”. Águia pensou um pouco... por instantes hesitou... a proposta era tentadora e a fez balançar. Águia queria muito ter um elevado paredão rochoso para, do alto, mostrar a todos os animais da floresta a sua perícia como exímia voadora. Era uma oportunidade ímpar. Porém o compromisso com Búfalo falou mais alto e ela disse “não”.

Dingo, cão selvagem australiano
Dingo, um jovem cão australiano, ocupava uma posição de liderança entre os de sua idade, apesar de não ser filho do casal alfa, líder da sua matilha.       

Dingo fora um dos primeiros a demonstrar solidariedade a Búfalo e se comprometera com seu projeto político a partir da primeira hora. Eram amigos desde criança.

Cobra, no entanto, com toda a sua sagacidade, apesar da pouca idade, chamou Dingo para uma conversa particular e disse-lhe: “Se você deixar a campanha do Búfalo e passar a me apoiar, eu lhe garanto um bom emprego no Conselho, com boas porções de carne todo mês, caso eu seja vitorioso”. Dingo, ainda sem muita perspectiva de um bom futuro na sua matilha, não teve dúvidas: “Às favas honra e compromisso. Eu quero mesmo é arranjar um bom emprego”. E prontamente disse “aceito”.

Carneiro, por sua vez, era o líder de um grupo de animais. Era ele quem guiava as ovelhas nos momentos da alimentação e também as conduzia às fontes de água. Era ele quem ajudava os fracos e doentes e sempre tinha uma palavra – ou seria um berro? – de consolo quando um predador atacava um membro do grupo, levando-o muitas vezes à morte. Todos os elementos do seu grupo tinham plena confiança em Carneiro. Talvez no mundo dos humanos ele pudesse ser comparado a uma espécie de líder espiritual, a quem todos prestam certa obediência.

Cobra, sempre astuta, viu nessa circunstância uma ótima oportunidade para tirar proveito. Imediatamente convidou Carneiro para um encontro a sós em sua toca e foi logo perguntando: “Qual a maior necessidade do seu grupo social?” Ao que Carneiro respondeu: “Eu preciso muito de uma fonte exclusiva de água para o meu rebanho”.

A matreira Cobra percebeu de imediato a possibilidade de ganhar muitos votos e foi logo propondo: “Você terá sua fonte, tão somente me garanta o seu total apoio e os votos do seu rebanho”. Carneiro, para quem escrúpulos e caráter eram coisas flexíveis, percebeu uma ótima oportunidade de se apresentar como benfeitor do seu grupo. Então, sem demora, respondeu “negócio fechado”.

E Cobra continuou sua caminhada sórdida rumo às eleições. Negociava o apoio de um aqui, dava um presente a outro ali e assim comprava consciências e votos. Os menos desavisados ou crédulos – ou seria interesseiros? – faziam campanha para ela e afirmavam: “Esse é o ofídeo que vai representar o nosso grupo social lá no Conselho da Floresta e vai levantar a bandeira do Grande Leão”.

Passado algum tempo, chegou o dia da eleição. Todos os animais votaram em completa ordem. Do inquieto Suricato ao poderoso Rinoceronte. Juntos, leões e hienas, leopardos e gazelas. Apurados os votos, eis o resultado: Cobra foi eleita com uma expressiva votação. Quanto a Búfalo... coitado, não foi dessa vez. Enquanto Cobra festejava a vitória, Búfalo recolhia-se ao seu pasto, triste e abatido, afinal o mal vencera.

No dia da posse, lá estava Cobra alegre e sorridente, distribuindo simpatia para todos. Em seu discurso de posse dizia assim: “Meus amigos, fizemos uma campanha propositiva, de alto nível e honesta. Temos a consciência tranquila, pois aqui chegamos pela vontade do “Poderoso Reis dos Animais, o Grande Leão”.

Eu estava lá e, do alto de uma árvore, assisti a tudo. Portanto, não há como não exclamar: quanto cinismo e dissimulação de um crápula cheio de peçonha, que pensa que todos os animais são idiotas!

É isso aí. A floresta tem dessas coisas. Então, o que fazer?

Divulgar historinhas como essa para ver se alguns animais despertam para a realidade.

Bom, meus amigos da floresta, qualquer semelhança com a vida dos humanos não é mera coincidência.

Macaco Rhesus, editor do jornal “Diário da Floresta”

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

A carta de Miruna Genoino em defesa do pai

A coragem é o que dá sentido à liberdade

Com essa frase, meu pai, José Genoino Neto, cearense, brasileiro, casado, pai de três filhos, avô de dois netos, explicou-me como estava se sentindo em relação à condenação que hoje, dia 9 de outubro, foi confirmada. Uma frase saída do livro que está lendo atualmente e que me levou por um caminho enorme de recordações e de perguntas que realmente não têm resposta.

Lembro-me que quando comecei a ser consciente daquilo que meus pais tinham feito e especialmente sofrido, ao enfrentar a ditadura militar, vinha-me uma pergunta à minha mente: será que se eu vivesse algo assim teria essa mesma coragem de colocar a luta política acima do conforto e do bem estar individual? Teria coragem de enfrentar dor e injustiça em nome da democracia?

Eu não tenho essa resposta, mas relembrar essas perguntas me fez pensar em muitas outras que talvez, em 
meio a toda essa balbúrdia, merecem ser consideradas...

Você seria perseverante o suficiente para andar todos os dias 14 km pelo sertão do Ceará para poder frequentar uma escola? Teria a coragem suficiente de escrever aos seus pais uma carta de despedida e partir para a selva amazônica buscando construir uma forma de resistência a um regime militar? Conseguiria aguentar torturas frequentes e constantes, como pau de arara, queimaduras, choques e afogamentos sem perder a cabeça e partir para a delação? Encontraria forças para presenciar sua futura companheira de vida e de amor ser torturada na sua frente? E seria perseverante o suficiente ao esperar 5 anos dentro de uma prisão até que o regime político de seu país lhe desse a liberdade?

E sigo...

Você seria corajoso o suficiente para enfrentar eleições nacionais sem nenhuma condição financeira? E não se envergonharia de sacrificar as escassas economias familiares para poder adquirir um terno e assim ser possível exercer seu mandato de deputado federal? E teria coragem de ao longo de 20 anos na câmara dos deputados defender os homossexuais, o aborto e os menos favorecidos? E quando todos estivessem desejando estar ao seu lado, e sua posição fosse de destaque, teria a decência e a honra de nunca aceitar nada que não fosse o respeito e o diálogo aberto?

Meu pai teve coragem de fazer tudo isso e muito mais. São mais de 40 anos dedicados à luta política. Nunca, jamais para benefício pessoal. Hoje e sempre, empenhado em defender aquilo que acredita e que eu ouvi de sua boca pela primeira vez aos 8 anos de idade quando reclamava de sua ausência: a única coisa que quero, Mimi, é melhorar a vida das pessoas...

Este seu desejo, que tanto me fez e me faz sentir um enorme orgulho de ser filha de quem sou, não foi o suficiente para que meu pai pudesse ter sua trajetória defendida. Não foi o suficiente para que ganhasse o respeito dos meios de comunicação de nosso Brasil, meios esses que deveriam ser olhados através de outras tantas perguntas...

Você teria coragem de assumir como profissão a manipulação de informações e a especulação? Se sentiria feliz, praticamente em êxtase, em poder noticiar a tragédia de um político honrado? Acharia uma excelente ideia congregar 200 pessoas na porta de uma casa familiar em nome de causar um pânico na televisão? Teria coragem de mandar um fotógrafo às portas de um hospital no dia de um político realizar um procedimento cardíaco? Dedicaria suas energias a colocar-se em dia de eleição a falar, com a boca colada na orelha de uma pessoa, sobre o medo a uma prisão que essa mesma pessoa já vivenciou nos piores anos do Brasil?

Pois os meios de comunicação desse nosso país sim tiveram coragem de fazer isso tudo e muito mais.

Hoje, nesse dia tão triste, pode parecer que ganharam, que seus objetivos foram alcançados. Mas ao encontrar-me com meu pai e sua disposição para lutar e se defender, vejo que apenas deram forças para que esse genuíno homem possa continuar sua história de garra, HONESTIDADE e defesa daquilo que sempre acreditou.

Nossa família entra agora em um período de incertezas. Não sabemos o que virá e para que seja possível aguentar o que vem pela frente pedimos encarecidamente o seu apoio. Seja divulgando esse e/ou outros textos que existem em apoio ao meu pai, seja ajudando no cuidado a duas crianças de 4 e 5 anos que idolatram o avô e que talvez tenham que ficar sem sua presença, seja simplesmente mandando uma palavra de carinho. Nesse momento qualquer atitude, qualquer pequeno gesto nos ajuda, nos fortalece e nos alimenta para ajudar meu pai.

Ele lutará até o fim pela defesa de sua inocência. Não ficará de braços cruzados aceitando aquilo que a mídia e alguns setores da política brasileira querem que todos acreditem e, marca de sua trajetória, está muito bem e muito firme neste propósito, o de defesa de sua INOCÊNCIA e de sua HONESTIDADE. Vocês que aqui nos leem sabem de nossa vida, de nossos princípios e de nossos valores. E sabem que, agora, em um dos momentos mais difíceis de nossa vida, reconhecemos aqui humildemente a ajuda que precisamos de todos, para que possamos seguir em frente.

Com toda minha gratidão, amor e carinho,

Miruna Genoino
09.10.2012

(Transcrito de http://www.advivo.com.br/luisnassif, de Luis Nassif)

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Carta à minha neta – As estrelas

Imagem registrada pelo telescópio espacial Herschel, divulgada pela Agência Espacial Europeia (AEE), que mostra a formação de estrelas
Querida Paola,

Faz um bom tempo que eu não lhe escrevo. Agora que você completou 5 anos quero aproveitar a oportunidade para lhe falar sobre as estrelas.

Se eu lhe perguntar “O que são as estrelas?”, é razoável admitir que, como qualquer criança a partir dos 4 ou 5 anos de idade, acertadamente você me responderá: “São aqueles pontinhos luminosos que brilham lá em cima no céu noturno”. Acredito que praticamente todas as pessoas em todo o mundo são capazes de identificar as estrelas dessa forma. Mas o Sol, que também é uma estrela, não é um simples pontinho luminoso no céu. Dizendo de outra forma: todas as estrelas também são sóis. Então, por que há essa discrepância tão grande?

Agora complicou, não é Paola? Não, não complicou. A explicação é simples. A diferença é que a “nossa” estrela, o Sol, está muito perto da nossa Terra e as outras estrelas estão muito, muito distantes.

Veja bem, a distância do Sol à Terra é de cerca de 150 milhões de quilômetros. Uma distância muito grande quando comparada às distâncias percorridas na Terra por quaisquer meios de transporte, mas insignificante quando comparada às distâncias das outras estrelas.

Um avião deslocando-se ao redor do nosso planeta, acima da linha do equador, percorreria apenas cerca de 40 mil quilômetros até chegar ao ponto de partida.

Também é uma distância muito grande para o atual estágio tecnológico da humanidade. Os foguetes mais rápidos já projetados pela engenhosidade humana mal atingem a velocidade de 65 mil quilômetros por hora. Portanto, uma nave deslocando-se com essa velocidade em direção ao Sol demoraria 96 dias para chegar ao seu destino final. No entanto ela jamais chegaria lá, pois, levando-se em conta a alta temperatura da “nossa” estrela, que é de cerca de 6.000 °C na superfície, a nave seria destruída muito antes.

Por sua vez, a estrela mais próxima da Terra – depois do Sol, obviamente – é Próxima Centauro, cuja distância é de aproximadamente 40,7 trilhões de quilômetros. Compare as duas distâncias: Próxima Centauro está 271 mil vezes mais distante que o Sol. Portanto, esta é a razão de nós vermos o Sol como essa maravilhosa bola incandescente que nos dá luz, calor e vida, e as demais estrelas apenas como pontos luminosos no céu.

Uma curiosidade: Próxima Centauro faz parte de um sistema triplo de estrelas chamado Alfa Centauro. O interessante é que a maioria das estrelas no céu é parte de sistemas duplos ou múltiplos. Nosso solitário Sol é quase uma anomalia (Carl Sagan, em Cosmos).

Mais uma informação que talvez ajude você a compreender melhor quão distantes estão as estrelas da Terra e porque a luminosidade aparente delas é tão pequena em relação à do Sol. A luz do Sol demora cerca de 8 minutos, só 8 minutos, para chegar até nós, enquanto a luz de Alfa Centauro gasta cerca de 4,3 anos para nos atingir. Na realidade, quando olhamos para Alfa Centauro no céu nós estamos vendo o seu passado há 4,3 anos.

Bom, vamos complicar um pouquinho. Você sabe de que são feitas as estrelas? Acho que não, hein Paola?    

No seu “nascimento”, isto é, em sua origem, as estrelas são formadas por gás hidrogênio, que depois se transforma em gás hélio através de reações nucleares. O hélio por sua vez se transforma em outros elementos químicos.

Tudo começa assim: gigantescas nuvens de hidrogênio começam a se contrair devido a atração gravitacional, que tende a concentrar sua massa em um pequeno volume. O gás é comprimido pelo próprio peso. O gás comprimido se aquece a altas temperaturas. O gás aquecido cria uma reação contrária à implosão pela gravidade. Dá-se, então, um ponto de equilíbrio entre a gravidade que comprime e o gás aquecido que tende a se expandir. E o processo se estabiliza, interrompendo a implosão.

Em seguida, acontece o seguinte fenômeno: as altas temperaturas e as enormes pressões no interior das estrelas provocam reações nucleares que vão transformando o hidrogênio em hélio, e esse processo gera muita energia. E é exatamente essa energia que chega até nós na forma de luz e calor.

Depois de consumido parte do hidrogênio, a gravidade volta a vencer a “queda de braço” e a estrela começa a se contrair mais um pouco. E o processo se repete. O gás é comprimido pelo próprio peso. O gás comprimido se aquece a altas temperaturas. O gás aquecido cria uma reação contrária à implosão pela gravidade. Dá-se novamente o equilíbrio entre a gravidade que comprime e o gás aquecido que tende a se expandir. E as reações nucleares continuam a transformar hidrogênio em hélio e a gerar luz e calor.

Depois de consumido todo o hidrogênio, o processo de fusão continua juntando átomos de hélio e transformando-os em outros elementos, tais como: carbono, oxigênio, nitrogênio e ainda outros mais pesados, por exemplo, ferro, chumbo e urânio.

E esse processo continua até o fim da “vida” das estrelas, cuja “morte” pode gerar três tipos de “filhos”: anãs brancas, estrelas de nêutrons ou os exóticos e estranhos buracos negros.    

Estrelas menores, como o Sol, não atingem temperaturas e pressões suficientes para fundirem o hélio em outros elementos químicos muito pesados.  Depois de consumido todo o hidrogênio, a estrela passará a queimar o hélio e inflará até se tornar uma “gigante vermelha”. Depois de consumido todo o hélio, só restará um pequeno núcleo chamado de “anã branca” composto de carbono e oxigênio. “Nosso” Sol se encolherá até uma “anã branca” do tamanho da Terra.

Estrelas maiores que o Sol terminam seus dias numa espetacular explosão (supernova) e deixam um núcleo chamado de estrela de nêutrons. Estrelas ainda maiores dão origem a objetos esquisitos denominados buracos negros. A gravidade nos buracos negros é tão intensa que nada pode escapar do seu interior, nem mesmo a luz pode escapar das entranhas desses “monstros” do surpreendente Universo em que vivemos.

Bom, Paola, vou parar por aqui, pois as coisas estão ficando mais complicadas até para mim. Quem sabe um dia eu volte a lhe escrever para falar acerca desses estranhos “filhos” das estrelas!

Um beijo do seu avô.

Saulo         

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Por que tentam ferir letalmente o PT?

Eu não sou filiado ao PT, mas sempre fui simpatizante do Partido dos Trabalhadores. Votei no Lula cinco vezes e também votei na Dilma. E se no futuro, num possível segundo turno de uma eleição para a Presidência da República, estiverem o PT e qualquer um outro partido que se encontra dentro de determinada faixa do espectro político brasileiro, eu não tenho dúvidas em qual deverei votar. Porém, isso não quer dizer que eu estou satisfeito com o PT. Acho que o governo Lula ficou muito aquém do esperado e de certa forma me frustrou. Não se pode esquecer, todavia, que no governo Lula cerca de 40 milhões de pessoas ascenderam na pirâmide social brasileira e o Brasil foi projetado talvez  de forma inédita no cenário internacional.   
 
Quanto ao “mensalão”, se realmente existiu da forma como apregoa a mídia conservadora nacional, foi realmente um grande e inaceitável erro das lideranças do PT e merece uma punição exemplar.

No entanto, eu me pergunto: por que a grande mídia “bateu” tanto no governo Lula e agora “bate” tanto no governo Dilma? Trata-se simplesmente de altruísmo? Será que todos os seus porta-vozes estão realmente indignados com o “mensalão” simplesmente por idealismo? Ou ainda: será que é porque a mídia deseja acelerar o processo de transformação e melhoria das condições de vida dos brasileiros mais pobres?

Talvez o texto abaixo ajude a colocar um pouco de luz nessa questão.   
Leonardo Boff: Por que tentam ferir letalmente o PT?

por Leonardo Boff *

Há um provérbio popular alemão que reza: “você bate no saco mas pensa no animal que carrega o saco”. Ele se aplica ao PT com referência ao processo do “Mensalão”. Você bate nos acusados mas tem a intenção de bater no PT. A relevância espalhafatosa que o grosso da mídia está dando à questão, mostra que o grande interesse não se concentra na condenação dos acusados, mas através de sua condenação, atingir de morte o PT.

De saída quero dizer que nunca fui filiado ao PT. Interesso-me pela causa que ele representa pois a Igreja da Libertação colaborou na sua formulação e na sua realização nos meios populares. Reconheço com dor que quadros importantes da direção do partido se deixaram morder pela mosca azul do poder e cometeram irregularidades inaceitáveis.

Muitos sentimo-nos decepcionados, pois depositávamos neles a esperança de que seria possível resistir às seduções inerentes ao poder. Tinham a chance de mostrar um exercício ético do poder na medida em que este poder reforçaria o poder do povo que assim se faria participativo e democrático. Lamentavelmente houve a queda.

Mas ela nunca é fatal. Quem cai, sempre pode se levantar. Com a queda não caiu a causa que o PT representa: daqueles que vêm da grande tribulação histórica sempre mantidos no abandono e na marginalidade. Por políticas sociais consistentes, milhões foram integrados e se fizeram sujeitos ativos. Eles estão inaugurando um novo tempo que obrigará todas as forças sociais a se reformularem e também a mudarem seus hábitos políticos.

Por que muitos resistem e tentam ferir letalmente o PT? Há muitas razões. Ressalto apenas duas decisivas.

A primeira tem a ver com uma questão de classe social. Sabidamente temos elites econômicas e intelectuais das mais atrasadas do mundo, como soia repetir Darcy Ribeiro. Estão mais interessadas em defender privilégios do que garantir direitos para todos. Elas nunca se reconciliaram com o povo. Como escreveu o historiador José Honório Rodrigues (Conciliação e Reforma no Brasil 1965,14) elas “negaram seus direitos, arrasaram sua vida e logo que o viram crescer, lhe negaram, pouco a pouco, a sua aprovação, conspiraram para colocá-lo de novo na periferia, no lugar que continuam achando que lhe pertence”.

Ora, o PT e Lula vêm desta periferia. Chegaram democraticamente ao centro do poder. Essas elites tolerariam Lula no Planalto, apenas como serviçal, mas jamais como Presidente. Não conseguem digerir este dado inapagável.

Lula Presidente representa uma virada de magnitude histórica. Essas elites perderam. E nada aprenderam. Seu tempo passou. Continuam conspirando, especialmente, através de uma mídia e de seus analistas, amargurados por sucessivas derrotas como se nota nestes dias, a propósito de uma entrevista montada de Veja contra Lula. Estes grupos se propõem apear o PT do poder e liquidar com seus líderes.

A segunda razão está em seu arraigado conservadorismo. Não quererem mudar, nem se ajustar ao novo tempo. Internalizaram a dialética do senhor e do servo.

Saudosistas, preferem se alinhar de forma agregada e subalterna, como servos,  ao senhor que hegemoniza a atual fase planetária: os USA e seus aliados, hoje todos em crise de degeneração.

Difamaram a coragem de um Presidente que mostrou a autoestima e a autonomia do país, decisivo para o futuro ecológico e econômico do mundo, orgulhoso de seu ensaio civilizatório racialmente ecumênico e pacífico. Querem um Brasil menor do que eles para continuarem a ter vantagens.

Por fim, temos esperança. Segundo Ignace Sachs, o Brasil, na esteira das políticas republicanas inauguradas pelo PT e que devem ser ainda aprofundadas, pode ser a Terra da Boa Esperança, quer dizer, uma pequena antecipação do que poderá ser a Terra revitalizada, baixada da cruz e ressuscitada.

Muitos jovens empresários, com outra cabeça, não se deixam mais iludir pela macroeconomia neoliberal globalizada. Procuram seguir o novo caminho aberto pelo PT e pelos aliados de causa. Querem produzir autonomamente para o mercado interno, abastecendo os milhões de brasileiros que buscam um consumo necessário, suficiente e responsável e assim poderem viver um desafogo com dignidade e decência.

Essa utopia mínima é factível. O PT  se esforça por realizá-la. Essa causa não pode ser perdida em razão da férrea resistência de opositores superados porque é sagrada demais pelo tanto de suor e de sangue que custou.

* Leonardo Boff é teólogo, filósofo, escritor e doutor honoris causa em política pela Universidade de Turim por solicitação de Norberto Bobbio.

(Transcrito de www.viomundo.com.br, de Luiz Carlos Azenha)
 Saulo Alves de Oliveira

sábado, 1 de setembro de 2012

Pequena reflexão sobre a Ciência

A Ciência busca descobrir as leis que regem os fenômenos da natureza, e nessa busca tem descoberto coisas fantásticas.

Eu estava pensando na Força da Gravidade, descoberta por Isaac Newton na segunda metade do século 17.

Vejam que coisa espetacular: a mesma Força da Gravidade que nos mantém presos à Terra, também mantém a Lua presa à Terra e girando ao seu redor.

É ela que permite à Terra ter uma atmosfera.

É ela que também prende a Terra em órbita do Sol.

É ela que permite a formação das estrelas.

É ela que faz com que as estrelas se juntem em aglomerados gigantescos chamados galáxias.

A Força da Gravidade tem influência em todo o Universo.

Eu, infelizmente, não sou um cientista, mas admiro muito o seu trabalho, pois este trabalho proporciona conhecimentos fundamentais acerca de como a Natureza funciona, e tal conhecimento realmente liberta as pessoas das crendices e superstições.

Se não fosse a Ciência talvez ainda hoje nós vivêssemos na escuridão da ignorância que julgava as doenças como castigos de Deus ao invés de considerá-las fenômenos naturais provenientes de mutações genéticas, ou dos vírus, bactérias e vermes que atacam os corpos, ou ainda de distúrbios emocionais.

Lamentavelmente, muitos dos que se valem das descobertas científicas não lhe dão o devido valor.

Ao contrário, a julgam algo de somenos importância.

Quando o paciente sai da UTI e se recupera, é um milagre. Quando o paciente morre, a culpa é da Medicina.

Eu não estou descartando a influência da fé, mas isso é um tema para outra conversa.

“Dai a César, o que é de César; a Deus, o que é de Deus.”

Eu espero que um dia a geração que substituirá a minha dê à Ciência a importância que ela merece pelo seu trabalho em prol da humanidade.

Saulo Alves de Oliveira

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Aos olhos do Pai


Aos olhos do Pai
Você é uma obra-prima
Que Ele planejou
Com suas próprias mãos pintou
A cor de sua pele
Os seus cabelos desenhou
Cada detalhe
Num toque de amor


Você é linda demais
Perfeita aos olhos do Pai
Alguém igual a você não vi jamais
Princesa linda demais
Perfeita aos olhos do Pai
Alguém igual a você não vi jamais


Nunca deixe alguém dizer
Que não é querida
Antes de você nascer
Deus sonhou com você!


Você é linda demais
Perfeita aos olhos do Pai
Alguém igual a você não vi jamais
Princesa linda demais
Perfeita aos olhos do Pai
Alguém igual a você não vi jamais


Princesa...
Aos olhos do Pai





Recentemente, certa pessoa postou no Facebook um vídeo com um hino evangélico cuja letra está em destaque acima. Se você quiser ouvi-lo, basta clicar no link abaixo.

Eu tenho uma netinha que fez cinco anos mês passado. No seu caso, a letra da música se aplica perfeitamente. Porém, não é assim com todas as crianças do mundo.

A alguns meses atrás, minha neta chegou da escola cantarolando a música, com seu jeitinho inocente e gracioso. Confesso que achei engraçado quando a vi, sem muita habilidade para o mister, devido sua pouca idade, tentando cantá-la. Entretanto, ao ouvir a canção no Facebook, fiquei atento a sua mensagem e não posso deixar de fazer alguns questionamentos.

Obviamente, também não posso deixar que minha convicção se transforme na ingenuidade de admitir que todas as pessoas concordarão com as reflexões a seguir.

Como cantar essa música para uma criança que veio ao mundo com um grave defeito físico ou mental? E são muitas e chocantes as deformidades que existem. Não vou citá-las porque a lista é muito grande.

Como cantar essa música para uma criança esquelética, um verdadeiro cadáver ambulante, da África subsaariana ou de outras regiões pobres do mundo, ou mesmo do nosso país?

Pergunta que deveria sensibilizar todos os que crêem em Deus: pode-se dizer que tais crianças são uma “obra-prima” aos olhos do Pai e que Ele “planejou”, com suas “próprias mãos”, “cada detalhe” num toque de amor?

Que amor é esse?

Acho que o(a) autor(a) não teve essa percepção quando fez a letra. Teorizo: talvez o que lhe moveu foi a visão de pequeninos saudáveis, perfeitos e bem alimentados. Seria bom que alguém lhe sugerisse compor uma nova canção para os milhões de crianças com defeitos físicos ou mentais em todo o mundo.

Para mim tal música é uma enorme bofetada nos rostinhos dessas crianças que vieram e que vêm ao mundo todos os dias com graves defeitos físicos ou mentais incuráveis, ou que, com a aparência de cadáveres recém-saídos dos túmulos, morrem de fome pelo mundo afora.

Em homenagem a todas as crianças que sofrem, jamais incentivarei minha neta a cantá-la.

Saulo Alves de Oliveira