domingo, 25 de setembro de 2011

Carta à minha Neta - O Ano-luz

Galáxia de Andrômeda, localizada a uma distância de aproximadamente 2,5 milhões de anos-luz da Terra

Querida Paola,

Em uma carta anterior eu contei a você algumas coisas acerca da Luz. Disse-lhe que a velocidade da Luz no vácuo é 300 mil quilômetros por segundo. Para dar uma ideia melhor do que isso representa, propus um pequeno experimento mental que nos levou à conclusão de que um foguete, deslocando-se a essa velocidade, daria sete voltas e meia ao redor do equador terrestre em um segundo (a circunferência da linha do equador mede aproximadamente 40 mil quilômetros). Algo realmente fantástico.

Agora as coisas são um pouquinho mais complicadas.

O Sol é a “nossa” estrela. É aquele “bonitinho” – palavra que você gosta muito de pronunciar – que lhe causa manchas avermelhadas quando você vai à praia sem protetor especial. A Terra caminha no espaço girando ao redor do Sol presa pela força gravitacional. O Sol é uma gigantesca bola de gases incandescentes – cerca de 91,2 % de hidrogênio,  8,7% de hélio e 0,1% de outros elementos. Seu diâmetro tem cerca de 1,4 milhão de quilômetros. Dentro do Sol cabe algo em torno de 1,3 milhão de planetas iguais à nossa Terra. O “nosso” Sol fica a aproximadamente 150.000.000 de quilômetros da Terra. Mesmo a uma velocidade fantástica, a luz do Sol demora cerca de 8 minutos para chegar até nós.

Vamos fazer um pequeno experimento mental para dar uma idéia melhor do que isso representa. Vamos supor que o Sol é uma lâmpada acesa e que está conectada a um interruptor aqui na Terra. Ao acionarmos o interruptor, desligamos o Sol imediatamente (claro que isso é impossível, há leis físicas que o proíbem, mas lembre-se: nós estamos fazendo um experimento mental). O que aconteceria se isso fosse possível? Se você estivesse tomando banho de mangueira no quintal da nossa casa num sábado pela manhã, você poderia continuar a fazê-lo normalmente por 8 minutos, até subitamente a luz desaparecer e tudo ficar escuro como breu. Então você daria um grito enorme chamando a mamãe ou o vovô.           

O Universo é tão vasto, tão extraordinariamente vasto que, mesmo à velocidade da luz, qualquer nave levaria 4,3 anos para chegar à estrela mais próxima, Alfa Centauro, cuja distância à Terra é de aproximadamente 40.680.000.000.000 de quilômetros.
[O Alfa Centauro] É na verdade, um sistema triplo, duas estrelas girando uma em torno da outra, e uma terceira, a Próxima Centauro, orbitando o par a uma distância discreta. Em algumas posições em sua órbita, a Próxima é a estrela conhecida mais próxima do Sol, justificando o seu nome. [O interessante é que] A maioria das estrelas no céu é parte de sistemas duplos ou múltiplos. Nosso solitário Sol é quase uma anomalia (Carl Sagan, em Cosmos).
Um dia quando você estiver maior eu lhe apresentarei a fantástica obra de Carl Sagan.

Você já imaginou se nós tivéssemos três sóis? Seria bastante interessante, não acha? Talvez sempre fosse dia aqui na Terra.

E só na galáxia da Via Láctea – onde se localizam a nossa Terra, a nossa cidade, a nossa casa e todas as pessoas que conhecemos ou ouvimos falar –, existem cerca de 200 bilhões de estrelas. Dá-se o nome de galáxia a um agrupamento enorme de estrelas.

Andrômeda, a galáxia grande mais próxima da Via Láctea, está localizada a “2.500.000 x 9.460.800.000.000” de quilômetros. Certamente você ainda não sabe fazer essa conta, mas fique certa que o resultado é um número enorme. Tratando-se de Universo, os números são literalmente astronômicos.   

Veja bem: essa é a distância de uma das galáxias mais próximas à Via Láctea. E para complicar: há estimativas que se referem a centenas de bilhões de galáxias no Universo conhecido, cada uma com centenas de bilhões de estrelas.
De acordo com um cálculo feito em 2003 por astrônomos da Universidade Nacional da Austrália, o número de estrelas no Universo conhecido pelo homem, visíveis pelos mais modernos telescópios, seria de 70 sextilhões, ou 7 seguido de 22 zeros (do livro Poeira das estrelas, de Marcelo Gleiser).
Os objetos mais distantes já descobertos pelos cientistas no Universo estão tão longe da Terra que a distância que nos separa deles, em quilômetros, é da ordem de grandeza de 1 seguido de 23 zeros. Estou complicando muito, não é Paola?

Como você já percebeu, quando a gente se refere ao Universo os números são realmente superlativos, inclusive no que tange às distâncias. Por esse motivo, para facilitar as coisas, os cientistas criaram o Ano-luz, que é uma unidade de medida de distâncias, tal qual o metro ou o quilômetro. Só que 1 Ano-luz é a distância que a Luz percorre em um ano. Seu cálculo é feito multiplicando-se os seguintes termos: 365 x 24 x 60 x 60 x 300.000, cujo resultado é 9.460.800.000.000, ou seja, 1 Ano-luz corresponde a quase 9,5 trilhões de quilômetros.

Portanto, para concluir – e para não cansá-la –, vou relacionar abaixo algumas distâncias em Ano-luz (números aproximados):
1) do Sol à Terra: 0,0000158 anos-luz (ou 8,3 minutos-luz)
2) do Sol a Plutão: 0,000625 anos-luz (ou 5,5 horas-luz)
3) do Sol ao centro da galáxia da Via Láctea: 26 mil anos-luz
4) diâmetro da Via Láctea: 100 mil anos-luz
5) da Via Láctea à galáxia de Andrômeda: 2,5 milhões de anos-luz
6) do objeto mais distante descoberto pelos cientistas: 13 bilhões de anos-luz. 

É, minha Netinha, o Universo é realmente de uma grandeza incomensurável. E, diante de sua magnitude, nós, seres humanos, somos pouco mais do que o nada. Somos “poeira das estrelas”, como afirmou o físico e astrônomo Marcelo Gleiser. Somos literalmente poeira das estrelas, pois os elementos químicos que compõem os nossos corpos foram todos produzidos em antigas estrelas que explodiram e arremessaram no espaço sideral enormes quantidades desses elementos, os quais alcançaram uma gigantesca nuvem de hidrogênio. E juntos, hidrogênio e outros elementos químicos, deram origem ao “nosso” Sol e à nossa Terra. A querida Terra que nos produziu e que é o lar de todos os seres vivos.

Um beijo do seu avô,

Saulo     

domingo, 18 de setembro de 2011

Por que não acredito em Astrologia - Parte 2

Reproduzo, como fiz na Parte 1, trechos do livro Superciência, de Michael White. Sei que o texto ficou maior do que eu gostaria. Entretanto não poderia deixar de ressaltar o que julgo mais importante, sob pena de prejudicar a transmissão das afirmações e ideias do autor. Devo atribuir isso à minha sofrível capacidade intelectual, a qual, suponho – embora possa estar errado –, eleva-se um pouco acima do mais reles dos níveis, mas com certeza não o suficiente para atingir o brilhantismo.



“A tentativa mais famosa para (...) chegar a conclusões sobre a Astrologia vem da obra do psicólogo e estatístico Michel Gauquelin, que resumiu os seus esforços num livro chamado Dreams and Illusions of Astrology.

Para fazer isso, agarrou na data de nascimento de 576 membros da Academia Francesa de Medicina. Para sua surpresa, descobriu que, naquilo que considerava ser um número de casos estatisticamente significativo, as cartas astrológicas dos indivíduos tinham Marte ou Saturno a erguer-se (a isto chama-se o “ascendente”) ou estes planetas encontravam-se nesse momento no ponto intermédio do céu (o meio do céu). Para ver se isto significava realmente alguma coisa, Gauquelin repetiu em seguida o processo com uma amostra semelhante de profissões escolhidas aleatoriamente. Não descobriu qualquer correlação entre as cartas astrológicas e as carreiras que essas pessoas haviam seguido.    

Sentindo-se intrigado, Gauquelin prosseguiu a experiência com outros grupos para ver se existia um padrão emergente. Descobriu aquilo que afirmou ser um número desproporcionado de campeões desportivos que eram “regidos por Marte”, por outras palavras, em cujas cartas astrológicas esse planeta predominava. Entretanto, descobriu que artistas e escritores tendiam a ser dominados pela Lua, e que Júpiter tinha lugar de destaque na data natalícia de líderes militares, jornalistas e políticos.

Michel Gauquelin, que morreu em 1991, nunca advogou a Astrologia, mas chegou à conclusão que existia algum princípio desconhecido a intervir e algum elo estranho entre a humanidade e a matemática da natureza. Certamente nunca subscreveu o ponto de vista de que a aparente ligação com que se tinha deparado tivesse algo a ver com a influência direta desses planetas por meio de uma misteriosa força a operar no espaço interplanetário. É claro que a irmandade astrológica enalteceu Gauquelin e adotou-o como sendo um deles. Vezes sem conta, as descobertas do homem são exibidas como “prova” de que os princípios astrológicos estão corretos, que de fato somos meras criaturas sem qualquer vontade própria ou pensamento independente.     

A questão das estatísticas é uma matéria muito traiçoeira e muitos acham que nunca se pode confiar nelas para provar seja o que for, a menos que sejam apoiadas por outra prova experimental ou análise independente. Por exemplo, imaginem que não fazíamos ideia das probabilidades de obtermos “cara” ou “coroa” quando atiramos uma moeda ao ar. Decidimos descobrir, mas estamos cheios de pressa, por isso só podemos atirar a moeda ao ar dez vezes. A sorte ditaria nesse dia que a moeda caísse de “caras” sete vezes e “coroa” três. Poderíamos então concluir (de forma errada, é óbvio) que as probabilidades de obter “cara” eram sempre 70% e “coroa” 30%.

Um experimentador ou analista estatístico mais rigoroso passaria alguns dias a fazer a mesma experiência e deitaria a moeda ao ar, digamos, 5000 vezes. Certamente obteria um resultado muito diferente do seu colega e, com um por cento de desvio, obteria 2500 “caras” e 2500 “coroas”, mostrando que a probabilidade de cada um é de 50%.

A única diferença entre estas duas experiências é a dimensão da amostra. O mesmo princípio aplica-se a qualquer análise estatística. O mesmo se aplica ao trabalho de Gauquelin. Em cada um dos seus estudos, analisou as cartas astrológicas de cerca de 500 pessoas. Isso não é suficiente e seria considerada uma amostra inadequada para dar qualquer resultado significativo.  

Além disso, no caso da primeira experiência, também contou com quatro critérios separados – juntou médicos com quatro ocorrências planetárias: Marte no ascendente ou no meio do céu e o planeta Saturno no ascendente ou no meio do céu. Isto reduz ainda mais o significado dos resultados.  

E esta não é uma objeção trivial por parte de cientistas céticos. Se os investigadores do paranormal querem ser levados a sério e querem ver suas reivindicações aceitas como sustentáveis e verificáveis, têm de seguir as mesmas regras rigorosas que a ciência aplica a si própria, caso contrário as suas ideias permanecem mera especulação e adivinhação.

Baseado nas suas primeiras descobertas, Gauquelin esperava um teste que envolvesse 2000 generais do exército para mostrar que tinham uma predisposição para o signo Carneiro. De fato, descobriu-se que os generais haviam nascido dentro de um espectro astrológico aleatório. Além disso, é significativo que desta vez a amostra seja maior (e, logo, estatisticamente mais consistente), e o teste seja baseado na ligação de uma única patente a um único signo astrológico.           

[Normalmente os horóscopos contêm informações muito vagas que se aplicam a grande maioria das pessoas, independentemente do signo. E já têm sido feitas experiências que comprovam isso.] 

(...) [O próprio] Michel Gauquelin pôs um anúncio na revista Ice Paris oferecendo horóscopos grátis a qualquer pessoa que respondesse ao anúncio. Recebeu 150 pedidos e remeteu os horóscopos. Depois, acompanhou o assunto perguntando a cada um deles o que achava do horóscopo que recebera. Noventa e quatro por cento disse acreditar que o horóscopo se encaixava perfeitamente na sua personalidade. Aquilo que Gauquelin não disse foi que todos haviam recebido o mesmo horóscopo... o do Dr. Petroit, um infame assassino em série francês.”      

(...) Que fazer com o fato de a astrologia antiga, que permaneceu ostensivamente inalterada durante muitos milhares de anos, se basear na premissa de que apenas existiam seis planetas no nosso sistema solar? Os antigos apenas observaram Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter e Saturno. Os outros três planetas do sistema solar foram todos descobertos durante os últimos 250 anos (...), Plutão [o último deles, que em 2006 perdeu o status de planeta], foi observado pela primeira vez em 1930.     

Os astrônomos observam que se estes três planetas eram desconhecidos, então é obvio que todas as cartas desenhadas antes de 1930 estavam incorretas, mesmo que a influência celeste reivindicada pelos astrólogos seja real. Quando questionados sobre isto, os astrólogos ficam estranhamente mudos. Quando dizem alguma coisa, a sua resposta mais comum é dizer que a descoberta desses planetas não faz diferença. Quando interpelada sobre isto, a popular astróloga e autora de muitos livros sobre o assunto, Linda Goodman, afirmou intrigantemente que “um planeta não tem qualquer influência astrológica até ser descoberto” [sic]. Uma afirmação que compromete seriamente todas as premissas em que a Astrologia é construída.

 Os astrônomos há muito que conhecem um fenômeno chamado precessão. Isto é outro nome para “oscilação” e é exibido por qualquer corpo em rotação. À medida que a Terra roda, caminha em precessão, o que significa que para observadores na Terra, a posição relativa do Sol e da constelação muda durante um período de alguns séculos. É claro que esta posição relativa do Sol em relação às constelações é a essência da Astrologia – um signo é literalmente a constelação em que o Sol estava posicionado no momento do nascimento. As constelações e as datas do calendário foram fixadas há 2000 anos, dando-se determinadas datas para determinados signos. Por exemplo, os Sagitarianos nascem entre 22 de Novembro e 21 de Dezembro.

Mas, durante os últimos 2000 anos, a relação entre as datas e os signos mudou, pelo menos, o equivalente a um signo, de forma que os Sagitarianos são na verdade Escorpiões, os Aquarianos nascem realmente sob Capricórnio, etc. Deixo o leitor adivinhar o que isto significa para os traços de personalidade que muitos astrólogos ligam alegremente aos signos.

Os astrólogos ignoram este golpe para a arte e afirmam que é irrelevante; o que, se precisássemos de mais provas, demonstra que os astrólogos não são certamente cientistas. Os cientistas não ignoram provas experimentais verificáveis e suscetíveis de ser repetidas. 

É óbvio que o cientista e, para ser honesto, qualquer outra pessoa que se oriente pela razão e pela lógica, pela observação e pela experiência, não pode levar a Astrologia a sério. (...) Não há uma base racional para a Astrologia e esta não funciona pura e simplesmente. O mundo não opera da forma como os astrólogos fantasiam. Os nossos caracteres individuais são moldados por duas coisas – natureza e educação (genética e meio).     

Não precisamos de nada mais esotérico – a genética e o meio (a experiência) são suficientemente espantosos e dão ao mundo toda a variedade, excitação e maravilhosa diferenciação que poderíamos pedir. Juntos, dão-nos um mundo muito colorido cheio de indivíduos, bons, maus, horríveis e belos. Com isto, quem precisa de Astrologia?”
Saulo Alves de Oliveira

Obs:
1 - As citações entre colchetes [ ] não são de responsabilidade do autor do livro.
2 - Se quiser ler algo mais acerca do tema, sugiro dar uma olhada em “O silêncio dos astros”. Basta clicar no link abaixo.

domingo, 11 de setembro de 2011

Criei um blog. Por quê?

Sem dúvida esta deveria ter sido a primeira postagem deste blog, mas quando o criei faltou-me a percepção da importância deste esclarecimento. Faço, portanto, agora a devida correção.

Eu sou um ser humano comum. Não sou rico, não sou famoso, não sou jornalista, não sou escritor, nem ao menos 5% da população da cidade onde moro me conhecem. Também! Natal já tem pra lá de 800 mil habitantes. Entretanto tenho o enorme privilégio de desfrutar dessa coisa tão sublime e extasiante chamada vida. Ter consciência de que eu existo é algo simplesmente fantástico.

Nos meus anos de vida eu já ganhei muitas batalhas, mas também perdi outras tantas, e algumas foram muito, muito difíceis. Talvez a maior delas eu venci antes mesmo de nascer. E os grandes responsáveis foram meu Pai e minha Mãe.

Em um dia de 1955, quase certamente no mês de junho, meus pais estiveram juntos, não sei se pela manhã, à tarde ou à noite. Naquele momento eu me vi – mais precisamente o gameta masculino que me deu origem – entre dezenas de milhões de competidores, dos quais eu fui o único vencedor. Quanto aos demais, não somente perderam a batalha, todos morreram. Nove meses depois, precisamente no dia 19/03/1956, eu nasci.

De acordo com as mais recentes descobertas da Cosmologia, o Universo tem cerca de 13,7 bilhões de anos. E, segundo as pesquisas científicas, a vida na Terra tem cerca de 3,5 bilhões de anos. Refiro-me à vida como princípio, não à vida humana, essa é muito mais recente. O ser humano, quando vive muito, chega aos 100 anos e, quem ultrapassa tal limite, é motivo de admiração. Portanto, os anos de nossas vidas não são nada mais que poeira na vastidão do tempo cósmico. 

Todos os seres vivos estão sujeitos a um ciclo que me parece cruel, porém, me agrade ou não, é a mais transparente realidade: nascer, viver, reproduzir-se e morrer.

Muitos passam pela vida – ou será: a vida passa por eles? –, e quase ninguém toma conhecimento da sua existência. Eu não quero que isso aconteça comigo. Sim, eu sei, o meu blog é muito simples e desconhecido e eu tenho plena consciência de que ele não vai fazer com que o mundo tome conhecimento de que eu existo. Mas, quem sabe? – é  muita pretensão pensar assim? –, daqui a uns 200 ou 300 anos, alguém remexendo os arquivos da internet, talvez pesquisando como era esse meio de comunicação tão arcaico e precário do início do século XXI, tome conhecimento de que existiu um Saulo Alves de Oliveira e também descubra o que ele pensava.

Tão logo criei o blog, enviei um e-mail para alguns colegas e familiares e dei-lhes conhecimento. Nele eu dizia que pretendia divulgar experiências pessoais, ideias, críticas, comentários diversos, alguma coisa sobre ciência e como vejo o mundo.

Disse ainda que não era um escritor profissional, nem mesmo um amador. E complementei: “Também não sou versado nas letras e as palavras não fluem tão facilmente como no caso dos grandes escritores. Sou apenas alguém que deseja compartilhar com os outros seus pensamentos e suas reflexões acerca da vida”.

Portanto, aí está a finalidade do meu blog.

Saulo Alves de Oliveira

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

A beleza do Universo

Quero compartilhar com vocês essas imagens espetaculares do Universo divulgadas pelo MSN/BBC BRASIL. Diante delas não há como não exclamar: "Nós somos apenas poeira cósmica!" Basta clicar no link abaixo para vê-las.
http://verde.br.msn.com/a-beleza-do-universo

domingo, 4 de setembro de 2011

Por que não acredito em Astrologia - Parte 1


Imagem do planeta Júpiter obtida pelo Telescópio Espacial Hubble, da NASA, em 13 de Fevereiro de 1995. Júpiter fica a cerca de 630 milhões de quilômetros da Terra.


Recentemente eu fiz um comentário em um blog criticando um texto que tinha algo a ver com o espiritismo. Seu autor distorceu o pensamento de um cientista morto há quase 15 anos e colocou o nome do cientista como co-autor desse texto totalmente contrário ao que ele defendia quando em vida. Simplesmente um absurdo! O moderador do blog, por sua vez, respondeu às minhas objeções criticando-me e perguntando ao final: “Porém, para que não consideremos seu caso como perdido, o senhor poderia nos fornecer sua data completa de nascimento? Dia, mês, ano, horário e local? Gostaria muito de analisar o seu mapa astral”. Eu respondi simplesmente que não tinha interesse.

Posteriormente, em resposta a um outro comentário que eu fiz, ele perguntou: “Você realmente não quer reconsiderar a proposta de me fornecer sua data de nascimento? A ciência (sic) da Astrologia iria agradecer muito!!!” Então eu percebi que se tratava de um astrólogo e, provavelmente, médium, pois ele afirmou que o cientista – ressalto, morto há 15 anos! – “é autor mediúnico do texto”. Para mim não passa de uma fraude, digna de interpelação judicial.

Por esse motivo eu resolvi dizer o porquê não acredito na “ciência” da Astrologia. Para tanto vou me valer do livro Superciência, de Michael White, reproduzindo, de forma reduzida, o capítulo “Somos feitos de estrelas”.
“De acordo com algumas estatísticas, 99% das pessoas sabe o seu signo, e calcula-se que 50% da população consulte regularmente os horóscopos. Num mundo em permanente mudança, onde muitos são os que sentem não passar de um simples número, os horóscopos oferecem um toque pessoal, algo em que podem mergulhar e sentir-se confortáveis.

[Como o livro foi escrito há alguns anos, pode ser que os dados estatísticos acima sejam diferentes hoje](*)

Assim, dadas as razões reais e humanas para a permanente popularidade da astrologia, qual é a base do tema? E haverá alguma razão para que os entusiastas afirmem categoricamente tratar-se de uma “ciência”?

Alguns astrólogos acreditam que as estrelas influenciam a nossa saúde. Esta ideia foi popularizada pelo alquimista, astrólogo e místico Paracelso, que acreditava existir uma ligação íntima entre os elementos (as quatro substâncias [terra, água, ar e fogo](*) de que é feita toda a matéria, de acordo com Aristóteles) e as estrelas do céu. Ele ligou o comportamento dos elementos, os movimentos das estrelas e o bem-estar dos seus pacientes num triunvirato que levou a uma alquimia astrológica que alguns astrólogos modernos continuam hoje a validar.

Outros ignoram por completo os avanços do século passado e dão muito maior significado à influência das estrelas do que a fatores como o desenvolvimento psicológico, a genética e o ambiente.

O astrólogo acredita que os planetas do nosso sistema solar e as próprias estrelas desempenham um papel fundamental na forma como nos desenvolvemos como indivíduos e naquilo que acontece nas nossas vidas quotidianas; que os objetos celestes podem controlar o nosso destino e o mundo em geral. Para o astrólogo, os acontecimentos mundiais não são governados pela teoria do caos, uma sucessão de acontecimentos aleatórios em que nós, humanos, tentamos imprimir os nossos desejos individuais com graus de sucesso variados, mas que são em vez disso predeterminados, postos em movimento e mantidos em equilíbrio por alguma força intangível exercida pelo planeta e pelas estrelas.

Desde há muito que a ideia mais propagada é que alguma forma de força gravitacional intervém e é responsável pelas reivindicações da astrologia, que de alguma forma a força gravitacional entre planetas distantes e nós próprios provoca um elo misterioso, de modo que todos nós somos sujeitos a esse mecanismo. Por outras palavras, à medida que as estrelas e os planetas se movem  nas suas trajetórias, existe um fluxo ou força, ou um “sistema de energias” que faz de nós aquilo que somos e dita aquilo que fazemos. Isto leva então às ações do indivíduo e ao futuro da nação. 

A maior falha desta idéia é o fato de a força da gravidade ser extremamente fraca. Foi calculado que a força gravitacional entre um bebê no momento do nascimento e a parteira na sala de parto seria um milhão de vezes maior do que a influência gravitacional de qualquer planeta do nosso sistema solar e uma influência astronomicamente maior (literalmente) do que as estrelas distantes.

Para vermos a razão disso, só precisamos de ponderar por breves instantes as descobertas de Newton sobre a gravidade, feitas há mais de trezentos anos. O problema é que, para além da força gravitacional ser fraca, ela depende da distância entre dois pedaços de matéria e o seu poder diminui em função do afastamento dos objetos.

[A força gravitacional entre dois corpos é inversamente proporcional ao quadrado da distância entre esses dois corpos. Portanto, se um corpo A está afastado “x” e “2x” de dois corpos de mesma massa B e C, respectivamente, a força gravitacional entre A e B será quatro vezes maior do que a força entre A e C. Se a distância entre o corpo A e um outro corpo D – de massa igual à de B ou C – for “4x”, a força gravitacional entre A e B será 16 vezes maior do que a força entre A e D. E assim por diante.](*)

Tudo no Universo se apoia nesta lei do quadrado inverso. É por isso que a parteira (um objeto relativamente pequeno, mas muito, muito próximo do recém-nascido) exerce realmente uma influência gravitacional muito maior sobre a criança do que um planeta a centenas de milhões de quilômetros de distância.

[Acho que seria uma boa ideia alguém criar uma nova “ciência” chamada “parteiralogia” – ou seria melhor “obstetralogia?” Entretanto penso que o inventor  seria responsável por uma terrível onda discriminatória. Quais pais admitirão na sala de partos, em que pese a grande competência profissional, parteiras ou médicos com traços negativos em suas personalidades, tais como: arrogância, prepotência ou mesmo timidez? Desculpem a brincadeira, é apenas para descontrair, pois o texto ficou bem maior do que eu gostaria.](*)

(...) O magnetismo é uma outra possível arma do arsenal do entusiasta usado muitas vezes num esforço para definir a força que alegadamente permite a influência planetária. Mas, mais uma vez o magnetismo é uma força incrivelmente que só opera em distâncias curtas – tentem vocês mesmos com um compasso e um pequeno ímã.    
     
Em resposta a isto, os entusiastas realçam o fato de se saber que as aves migratórias conseguem navegar usando as linhas da força magnética em volta da terra; então, argumentam eles, como é que o magnetismo poderia deixar de estar na origem da influência planetária em astrologia? A resposta é similar à usada para contrariar a apropriação pelo astrólogo da lei da gravitação de Newton. As aves migratórias não fazem jornadas interplanetárias! As linhas de força que empregam de forma misteriosa e fascinante são poderosas linhas magnéticas de influência, produzidas pelo enorme núcleo de ferro do nosso planeta. Além disso, se os astrólogos querem realmente insistir em que existe uma espécie de efeito magnético, então essa influência seria dominada sobretudo pelo campo magnético da própria terra. Em determinado sentido, isto é análogo à comparação entre a influência da parteira e dos planetas, o impacto do campo magnético da Terra seria muito maior do que qualquer força magnética intangível que de alguma forma nos tivesse atingido vinda de outros planetas do sistema solar.    
(*) As citações entre colchetes [ ] não são de responsabilidade do autor do livro

Saulo Alves de Oliveira

sábado, 3 de setembro de 2011

Aborto, religião e estado - Parte 1

Uma das grandes polêmicas da atualidade é sem dúvida a questão do aborto. Alguns grupos levantam a bandeira da legalização. Fundamentam sua defesa no princípio básico de que a mulher tem todo o direito sobre o seu corpo e, portanto, deve ter também o direito de decidir quanto a abortar ou não, independentemente do fato de ter em seu ventre uma vida, seja ela em seus momentos iniciais, isto é, logo após a concepção, ou mesmo em estágios mais avançados de desenvolvimento.

Há aqueles que defendem o aborto em situações extremas, como são os casos de estupro ou de graves doenças incuráveis ou de deformações congênitas, mesmo que haja possibilidade de vida, ainda que apenas vegetativa. Nesse último caso pode-se citar, por exemplo, a anencefalia, que é caracterizada pela malformação do cérebro ou até mesmo a falta deste.

Há ainda os que são contrários ao aborto em quaisquer situações. Dentre esses, alguns tomam a Bíblia como base de suas convicções.

O aborto, no entanto, é uma dura realidade e, como diz a lenda, não podemos enterrar a cabeça na areia como o avestruz e ficar alheios aos problemas ao nosso redor. Muitas mulheres pobres fazem abortos clandestinos e morrem. As ricas, não, pois têm uma melhor assistência médica. Além disso, não podemos tratá-lo como dogma religioso.

A priori, eu sou contra o aborto, não porque a Bíblia o seja, aliás, com exceção de uma única vez em que toca no assunto, a Bíblia sequer se refere ao tema. As pessoas pinçam versículos e fazem sua interpretação para combater o aborto. O único texto que se refere claramente ao tema está em Ex. 21:22-25. É lógico que se trata de aborto acidental e não provocado, entretanto o que eu quero ressaltar é que naquela época – no tempo da Lei Mosaica –, não era dado ao feto a mesma importância que se dava à mãe, ao contrário do que hoje pregam os que são radicalmente antiaborto. Se um homem ferisse uma mulher grávida e “Se não houvesse algum outro dano além do aborto, então era imposta uma multa...; porém, se a mulher grávida viesse a perder a vida, nesse caso era aplicada a lei do homicídio... Vida por vida, olho por olho... (O novo comentário da Bíblia, vol. I, pág. 139). Isto é, as penas pelas mortes do feto e da mulher não eram as mesmas.

Muitos estudiosos da Bíblia, para fazer a exegese de determinados trechos, valem-se de diversas versões da Bíblia. Tal procedimento, entretanto, há muito me incomoda, pois, sendo a Bíblia a Palavra de Deus, ela deveria ser clara e objetiva sem necessidade desse recurso. Para mim há um forte indício do porquê isso acontece, entretanto me reservo o direito de não tratar desse assunto agora, haja vista que é apenas um indício e também porque não é esse o escopo deste comentário. Quem sabe um dia eu volte ao assunto?

Eu não sou teólogo nem exegeta. Fiz referência à questão da exegese somente para dizer que vou citar uma tradução da Bíblia que por si só esclarece o que afirmei anteriormente. Não há necessidade, pois, de nenhum trabalho de interpretação. Trata-se de uma Edição Ecumênica da Bíblia Sagrada, tradução de Antônio Pereira de Figueiredo. Eis o texto de Ex. 21:22-25, reproduzido literalmente: 
“Se dois homens brigarem um com outro, e um deles ferir uma mulher pejada, que veio a parir a sua criança morta, ficando ela viva; será condenado a pagar quanto o marido da mulher quiser, e quanto ordenarem os árbitros. Mas se a mãe morreu da ferida, dará vida por vida, olho por olho, dente por dente, mão por mão, pé por pé, queimadura por queimadura, ferida por ferida, nódoa negra por nódoa negra.”
Julgo que o texto é muito claro e não há necessidade de interpretação. Faz-se necessário apenas uma ressalva: como a palavra “pejada” não é muito usual, esclareço apenas que quer dizer “grávida”.   

Saulo Alves de Oliveira

Aborto, religião e estado - Parte 2

Eu sou contra o aborto por princípios morais e éticos, ressalvados alguns casos específicos, talvez os que citei no segundo parágrafo da primeira parte deste comentário. Julgo o aborto uma agressão à “vida humana”. Faço questão de dar ênfase às palavras “vida humana” porque muitos dos que combatem o aborto alegam que defendem a vida, mas não a vida no seu sentido mais amplo, como direito também de todos os outros seres vivos que dividem conosco o planeta. Centenas de milhares de animais – talvez milhões – são assassinados todos os dias pelos mais diversos motivos, inclusive para alimentação do ser humano, e poucos de nós estamos preocupados com tal situação. E eu, lamentavelmente, contribuo com isso, pois também como carne, apesar de considerar uma barbárie contra os animais. Mas essa polêmica fica para outra oportunidade.  

Não acho que o fato da mulher ter o direito de fazer o que bem entender do seu corpo, outorga-lhe o direito de praticar o aborto a seu bel-prazer. Sexo só deve ser feito com responsabilidade, pois poderá ter implicações na vida de um terceiro ser, o qual, em quaisquer situações consideradas, é o único inocente e nada tem a ver com as atitudes de dois corpos humanos prontos para a procriação.

Entendo que o tema deva ser debatido por todos os segmentos da sociedade, incluindo aí o estado, as igrejas e a ciência, para se chegar a uma lei racionalmente justa, dentro de princípios científicos e morais. Julgo, porém, que o estado por ser laico – e defendo esse princípio – não deve discutir temas importantes tomando como base quaisquer religiões, suas doutrinas específicas e seus livros sagrados, porquanto isso é muito perigoso. Relembremos os absurdos cometidos pelo cristianismo no passado por confundir o estado com a religião. E em pleno século XXI absurdos ainda acontecem quando se misturam os ensinamentos do islamismo com o estado.

O estado tem o dever de governar não apenas para uma parcela da população e sim para todos os seus cidadãos: católicos, protestantes, judeus, muçulmanos, budistas, espíritas, ateus e tantos outros. É sua obrigação atender os interesses de cada grupo social, visando, no entanto, e sobretudo, o bem comum. E o grande estadista governa com o uso da razão.

Cada cidadão tem o direito de professar uma religião ou mesmo não ter religião – ou ainda nem sequer acreditar em Deus –, e não pode ser molestado por isso, mas o estado deve ser laico. O estado não pode ter religião e o homem público, seja qual for sua fé, não pode confundir seu trabalho com sua religião. Não entender tal aspecto é muito perigoso, pois pode transformar o crente em um impositor de sua fé, como acontece em alguns países muçulmanos e já aconteceu na Europa na idade das trevas.  

De forma irresponsável, a questão do aborto foi lançada na última campanha eleitoral pelo grupo que apoiava o Sr. Serra. Inclusive alguns pastores e padres, indignos desses títulos na acepção comum das palavras, participaram daquele teatro, pois o fizeram não apenas por altruísmo, mas sim com o intuito de prejudicar a candidatura da Sra. Dilma Rousseff.

Acusar a então candidata Dilma de ser a favor do aborto, quando a própria mulher o praticou! Talvez premida por uma situação adversa, é compreensível, não se pode julgá-la. Entretanto o  inexcusável – e de um cinismo e hipocrisia sem tamanho – foi deixar a mulher afirmar que “ela (Dilma) é a favor de matar criancinhas”, numa total distorção e descontextualização do tema. Foi uma atitude não só deplorável, mas acima de tudo irresponsável.

Felizmente as críticas arrefeceram logo após a divulgação da notícia de que a Sra. Mônica Serra fizera um aborto em um período difícil da sua vida.

Agora chegou o momento de debater o tema. Com a palavra todos os intervenientes sociais.

Saulo Alves de Oliveira