domingo, 3 de julho de 2011

Evolução: teoria ou fato?


















Algumas vezes eu leio ou escuto alguém afirmar: “É apenas uma teoria”, referindo-se ao evolucionismo. Certas pessoas o fazem porque desconhecem o que quer dizer “teoria científica”, outras, no entanto, o fazem maldosamente para desqualificar a Teoria da Evolução. Uma teoria só é uma “teoria científica” se houver evidências a seu favor, caso contrário ela é apenas uma hipótese. E, nesse caso, se as evidências não a confirmarem, ela é descartada.

Eu gostaria de dizer algo mais sobre o assunto, no entanto não sou a pessoa melhor qualificada para fazê-lo. Certamente alguém pode questionar: “Quem é você para abordar esse tema? Acaso você é um cientista? Um biólogo ou um paleontólogo, por exemplo?” A resposta óbvia é “não”. Minha formação é outra, entretanto esse é um tema que muito me interessa. Para não correr tal risco, vou transcrever as palavras de uma autoridade no assunto, de quem tomei emprestado o título acima. Depois eu direi quem as escreveu. 
"Os exemplos aqui relatados com base no estudo dos genomas, somados a outros que poderiam encher milhares de livros do tamanho deste, fornecem o tipo de respaldo molecular à teoria da evolução que convenceu praticamente todos os biólogos em atividade de que a estrutura de Darwin sobre a variação e a seleção natural está inquestionavelmente correta (*). Na verdade, para quem, como eu, trabalha com genética, é quase impossível imaginar uma correlação das imensas quantidades de dados surgidos de estudos de genomas sem os fundamentos da teoria de Darwin. Como afirmou Theodosius Dobzhansky, destacado biólogo do século XX (e devoto da Igreja Cristã Ortodoxa do Oriente): “Nada tem sentido na Biologia, exceto à luz da evolução”.
No entanto, fica claro que a evolução vem sendo uma fonte de grande desconforto na comunidade religiosa durante este século e meio mais recente, e essa resistência não mostra sinais de diminuição. Contudo, aos que acreditam em Deus, recomendo examinar com atenção o peso arrebatador dos dados científicos que dão respaldo ao ponto de vista de que todas as formas de vida, incluindo a nossa, se acham inter-relacionadas (*). Dada a força das evidências (*), é desconcertante como a aceitação pública avançou tão pouco nos Estados Unidos. Talvez parte do problema diga respeito a uma mera interpretação errada da palavra “teoria”. Os críticos adoram salientar que a evolução é “só uma teoria”, uma afirmação que intriga cientistas em atividade, acostumados a um significado diferente dessa palavra. Vasculhando os dicionários, podemos encontrar duas definições alternativas para o termo “teoria”: “(1) um ponto de vista especulativo ou conjetural sobre algo; (2) princípios fundamentais subjacentes a ciência, arte, etc., como a teoria musical e a teoria das equações”.
É à segunda acepção que os cientistas se referem ao falar da teoria evolucionária, assim como quando mencionam a teoria da gravidade ou a teoria sobre germes de doenças infecciosas. Nesse contexto, “teoria” não pretende transmitir incertezas; para isso, um cientista usaria a palavra “hipótese”. No entanto, no uso comum do dia-a-dia, “teoria” ganha um sentido muito mais casual, como: “Tenho uma teoria de que João está apaixonado por Maria” ou “De acordo com a teoria de Laura, foi o mordomo quem fez isso”. Conforme ficou claro, é uma pena que nosso idioma careça de sutilezas de distinção necessárias aqui, pois essa simples confusão sobre o significado da palavra piorou as coisas na controvérsia entre a ciência e a fé a respeito dos seres vivos.
Assim, se a evolução for uma verdade, há algum espaço para Deus? Arthur Peacocke, destacado biólogo molecular que se tornou bispo anglicano e escreveu muito acerca da interface entre biologia e fé, publicou recentemente um livro chamado Evolution: The Disguised Friend of Faith? [Evolução: a amiga disfarçada da fé?]. O título interessante sugere uma possível reaproximação, mas seria esse um casamento forçado de visões de mundo incompatíveis? Ou agora que apresentamos os argumentos sobre a veracidade de Deus, por um lado, e os dados científicos sobre as origens do universo e da vida em nosso planeta, por outro, podemos encontrar uma síntese feliz e harmoniosa?"        
Excetuando-se os trechos que se referem a Deus, religião e fé as palavras acima poderiam ter sido escritas por Richard Dawkins, cientista, cético, ateu e talvez o maior defensor do darwinismo na atualidade. É evidente, portanto, que não foi o Dawkins que as escreveu.

Na realidade tais palavras foram reproduzidas do livro “A Linguagem de Deus” de Francis Collins, cientista, biólogo, diretor do Projeto Genoma Humano, crente, teísta e também defensor do darwinismo. É óbvio que, para entender melhor suas palavras, é conveniente ler todo o livro.

Mas, qual é a diferença fundamental entre os dois? Collins afirma que por trás da evolução está Deus. Essa é a linguagem que Deus usou para criar todos os seres vivos. Dawkins afirma que o universo e a vida prescindem de Deus, pois o surgimento da vida e sua evolução se deram por meios naturais e a ciência vem obtendo grande sucesso em sua explicação. 

Não obstante, Collins e Dawkins estudaram a teoria evolucionária e, tendo considerado todas as evidências que surgiram – nos últimos 150 anos – após a publicação de “A Origem das Espécies” em 1859 por Charles Darwin, chegaram a uma só conclusão: o evolucionismo é a melhor explicação para a diversidade da vida em nosso planeta.

(*) Grifo meu

Saulo Alves de Oliveira

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